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Brasil

Edição 152 > Fundações unem-se pela reconstrução do país

Fundações unem-se pela reconstrução do país

Da Redação
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Fundações ligadas ao PCdoB, ao PT, ao PDT e ao PSOL divulgaram texto capaz de unificar diferentes correntes políticas progressistas em torno da defesa de um novo ciclo de democracia, soberania nacional e progresso. Avanço da excepcionalidade nas práticas institucionais alerta para a necessidade da unificação e mobilização dos setores democráticos

Durante ato político que lotou um plenário da Câmara dos Deputados na tarde desta terça-feira (20), quatro entidades partidárias lançaram o manifesto Unidade Para Reconstruir o Brasil, que unifica o esforço de legendas progressistas em prol de um novo projeto de desenvolvimento para o país.

A iniciativa das Fundações Maurício Grabois (PCdoB), Perseu Abramo (PT), Leonel Brizola-Alberto Pasqualini (PDT) e Lauro Campos (PSOL) deu origem a um documento, no qual são elencadas as razões fundamentais para a construção de uma unidade política progressista e as tarefas imperativas a serem alcançadas.

A Câmara dos Deputados, com sua volatilidade e agenda intensa de eventos, foi escolhida para o lançamento. No entanto, a lotação foi muito além do esperado, com parte do público acompanhando os discursos fora do plenário. Parlamentares e lideranças sociais e partidárias, assim como intelectuais e representantes das sociedade civil, que costumam passar brevemente pelos eventos, permaneceram durante toda a duração dos discursos, mesmo diante de votações ocorrendo. Foi perceptível a vontade de expressar um desejo de unidade em torno do repúdio ao golpismo em vigor no país, como um desabafo que há muito se queria fazer ouvir.

Além de lembrarem da força do voto dos eleitores para mudar o quadro atual de retrocessos, os integrantes do movimento destacaram, por várias vezes, a intervenção federal decretada na última sexta-feira na área de segurança pública do Rio de Janeiro – vista como o início de uma série de medidas autoritárias que estão sendo programadas. Citaram, também, as tentativas de restringir o processo eleitoral de 2018 com ameaças diversas, dentre as quais o impedimento da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Encontrando uma luta comum

Durante o evento de lançamento do manifesto, o presidente da Fundação Maurício Grabois, Renato Rabelo, – escolhido para falar em nome das fundações –, destacou a importância da ação pioneira da esquerda de se unir, de fato, e apresentar uma proposta de construção para uma base programática. Mas ele salienta: “Este é o ponto de partida, não de chegada”.

“É a busca de uma alternativa trabalhada em conjunto, que permite o diálogo e o avanço. Essa base mínima é importante para o progresso e não conflita com as estratégias e táticas eleitorais dos partidos. Estamos trabalhando para que esse lastro sirva de referência para a unidade maior, até mesmo para um pacto eleitoral. Não vamos nos entregar à hegemonia neocolonial e ultraliberal a qual esse governo se submete”, defendeu Rabelo.

Para ele, o objetivo maior é a construção de um projeto nacional alternativo, que articule o resgate da democracia e da soberania nacional e a defesa dos direitos sociais e a luta contra a desigualdade. Ele destaca que o “governo intruso” de Temer não é um acidente de percurso e precisa ser contextualizado em seu papel de subordinação à tentativa de recolonização do País e da nova ofensiva neoliberal.
 
Renato disse que quando se fala de um novo projeto nacional isso significa que “o projeto precisa de uma articulação sistêmica, integrada, tendo como centro, os desafios nacionais”. Segundo ele, as três questões que dão caráter de sistema ao projeto são a soberania, o progresso social e a causa democrática. E elas, explicou, têm no centro a questão nacional “porque sem o desenvolvimento nacional não se resolve a potencialidade do povo e do Brasil”.

“Só um projeto nacional será capaz de enfrentar o desafio das desigualdades do país. Questões como a reindustrialização, a restruturação do estado brasileiro, saúde, educação e segurança são questões estratégicas para o País. São esses os desafios que estão sistematizados e articulados em um projeto”, argumentou Renato Rabelo.
Essa necessidade de longo prazo, ressalta o dirigente do PCdoB, deve caminhar junto com as tarefas imediatas das forças progressistas: derrotar o golpe. Em questão de meses, direitos básicos foram retirados da população e parte do patrimônio nacional foi entregue de bandeja ao mercado estrangeiro.

A presidente nacional do PCdoB, deputada Luciana Santos (PE), evidenciou que esse deverá ser um esforço contínuo e coletivo a ser traduzido na constituição de uma frente ampla com setores produtivos e com participação do povo. De acordo com ela, “não devemos seguir a velha lógica que não apresenta alternativas para as nações”.

“Não estamos fazendo aqui uma convergência eleitoral, mas construindo, por meio deste ato, respostas comuns contra essa onda conservadora que vem sendo observada desde o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, em 2016?, disse a presidenta do PCdoB.

Luciana Santos destacou que o que une o movimento é a retomada do desenvolvimento do país de modo sustentável e lutas por questões como “uma reforma tributária progressista que taxe grandes fortunas, uma política macroeconômica que possa defender os interesses do setor produtivo brasileiro e que permita a criação de novos empregos, entre outras causas”.

“Estamos aqui para defender a democratização do Estado, um Estado que tem uma estrutura retrógrada, conservadora. Estamos vivendo um estado de exceção. O neoliberalismo só se impõe pelo arbítrio e à força, e é isso o que estão fazendo no Brasil. Mas há uma grande pedra no caminho desse pessoal que são as próximas eleições”, ressaltou.

“O Brasil tem destino próprio, é um país rico, de possibilidades, com povo inteligente e inovador. Os golpistas têm uma grande pedra no caminho, que é o voto. Nossa resposta mais contundente é a possibilidade de as forças partidárias que estão aqui, com quatro candidaturas diferentes à Presidência da República e outras mais que possam surgir, tenham a capacidade política de ter unidade de ação e derrotar a direita pela quinta vez”, exaltou a deputada.

Carlos Lupi, presidente nacional do PDT, ressaltou que a situação atual é ímpar na história do país. “Presenciamos uma inversão total de poderes. O Judiciário, por exemplo, ocupa tudo, o que lhe cabe e mais o Executivo, o Parlamento. É preciso restabelecer a ordem”.

O dirigente do PDT – partido que tem candidato próprio à Presidência, o também ex-ministro Ciro Gomes – concorda com Renato Rabelo quando este diz que o debate programático não conflita com a tática e estratégia eleitoral de cada partido: “O importante é podermos estar juntos para derrotar o retrocesso. O futuro depende de nossa coragem e ousadia. Para fazer o enfrentamento que estamos articulando aqui, é preciso ter muita coragem, visão de mundo, luta acumulada, história. E nós temos. Cada um dos nossos partidos tem sua proposta, suas ideias. Mas sei que qualquer um dos eleitos terá esse compromisso com o Brasil e com o povo”.

A maturidade conquistada pelos partidos progressistas na construção dessa união também foi destacada pela presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), e pelo presidente do PSol, Juliano Medeiros. Citando trechos do manifesto, Medeiros ainda observou a importância de aproveitar este momento para reinventar algumas práticas das correntes de esquerda.
“É preciso compreender que o programa histórico da esquerda, que sempre lutou pelas questões trabalhistas, por exemplo, precisa ser complementado com outras agendas como feminismo, contra o racismo, contra a LGBTfobia. Precisamos ser capazes de responder aos problemas do povo”, disse.

Embora o manifesto não aborde diretamente a condenação do ex-presidente Lula em segunda instância por corrupção passiva, no evento sobraram críticas ao processo judicial contra o petista. “Além da condenação sem provas, há outros ataques à democracia”, discursou o presidente do PSOL. Para Luciana Santos, que preside o PCdoB, “há uma caçada ao ex-presidente Lula em curso”.

A senadora Gleisi reiterou que a proposta apresentada nesta convergência não representa “um fim, mas um início”, como disse Renato Rabelo. “Vivemos novamente um debate com discriminações fortes e cenas de intolerância. É um momento muito difícil para o Brasil, um momento de anormalidade. A democracia brasileira foi rompida quando houve o impeachment e estão, agora, tentando romper, até mesmo, a baixa democracia que vivemos, com eleições seletivas que impedem determinadas candidaturas.”

A presidenta do PT disse que, apesar das divergências conjunturais dos partidos, o grupo conseguiu superar suas diferenças e começaram a construir uma unidade programática. “Sabemos o que fazemos de certo, e muito fizemos, e também sabemos onde temos que mudar, os erros que cometemos, que é [algo] natural de qualquer processo. Pense que isso pode nos dar um ponto de partida, que seja muito qualificado, para a gente fazer uma transformação efetiva para o nosso Brasil”, discursou.

“O pacto institucional que o País firmou na Constituição, foi rompido”, ressalta Gleisi. No processo que desaguou no golpe de 2106, os pilares consagrados na Carta de 1988 – a decisão pela democracia, pela proteção social e pela soberania nacional – entraram na alça de mira das classes dominantes e seus grupos de apoio, muitos deles de inspiração neofascista.

“O Brasil é grande demais para ser governado por uma gente tão pequena”, lembra Gleisi, para quem a formulação de um programa progressista e ousado como o que os partidos de esquerda começaram é um passo fundamental para reverter o obscurantismo, mas não será o suficiente. “Está claro que mesmo a democracia formal é demais para as elites brasileiras. Temos que ir além do que já fomos e apostar também em formas de democracia direta, na mobilização, na força do movimento social”.

O senador João Capiberibe (PSB-AP) destacou a importância do que foi construído no ato lembrando que “ao longo da história, cada vez que se avança no processo democrático, tivemos uma ruptura. E nos últimos anos não foi diferente”. De acordo com Capiberibe, “o decreto de intervenção no Rio de Janeiro é apenas uma amostra do que está por vir. Já se fala em autonomia do Banco Central também. Por isso, é importante ajudar a construir a unidade que precisamos para a democracia brasileira”.

“Nossa unidade tem que ser programática, para o longo prazo, mas também precisa ser imediata. Não podemos marchar divididos em 2018”, defendeu o senador Capiberibe. “Nossa tarefa é recuperar a democracia ferida não só pelo golpe de 2016, mas também ameaçada pelo que ainda está por vir. A nossa unidade é uma exigência da sociedade brasileira”.


Leia a  íntegra do Manifesto:

UNIDADE PARA RECONSTRUIR O BRASIL


As Fundações signatárias deste Manifesto, vinculadas a importantes e históricos partidos da esquerda brasileira, expressam a convicção de que, apesar das adversidades, o Brasil tem plenas condições de superar a presente crise.

Entendem que, independentemente das estratégias e táticas eleitorais do conjunto das legendas progressistas, uma base programática convergente pode facilitar o diálogo que construa a união de amplas forças políticas, sociais, econômicas e culturais que constituam uma nova maioria política e social capaz de retirar o país da crise e encaminhá-lo a um novo ciclo político de democracia, soberania nacional, prosperidade econômica e progresso social.

1) Por que um novo projeto nacional de desenvolvimento

Em crise há 10 anos, o capitalismo hegemonizado pela grande finança busca pretensas saídas. Por um lado, recrudesce o neoliberalismo, com a chamada política de austeridade, que corta direitos, liquida com o Estado de Bem-Estar Social, mutila a democracia e assegura os ganhos parasitários e astronômicos ao rentismo. Por outro, vai impondo uma nova ordem neocolonial através da qual açambarca a riqueza das nações e impõe amarras e políticas que negam o direito dos países da periferia e semiperiferia do centro capitalista de se desenvolverem autonomamente.

O governo politicamente ilegítimo de Michel Temer tem atuado, em essência, para subordinar o país integralmente a essa lógica imposta pelas grandes potências.
Estão sendo eliminadas ou mitigadas conquistas de natureza patriótica, democrática e popular alcançadas pela luta do povo brasileiro nos governos Getúlio Vargas e João Goulart – e ainda as conquistas que foram auferidas nas jornadas pela redemocratização do país e que resultaram na Constituição Cidadã de 1988 –, bem como o acervo de realizações do ciclo progressista de 2003-2016, dos governos Lula e Dilma, entre as quais o avanço dos indicadores sociais e a afirmação da soberania nacional.
Oito meses separam o país das eleições de 2018.

Há forte desalento na sociedade, mas, ao mesmo tempo, é grande a vontade do povo de retirar o país da crise e vê-lo reencontrar-se com a democracia e novamente prosperar, distribuir renda.

Mais uma vez a Nação se depara com uma encruzilhada: Ou o país se reencontra com o caminho da democracia, da soberania nacional, do desenvolvimento e do progresso social; ou seguirá na rota, que lhe impôs o governo Temer, do entreguismo, do autoritarismo e do corte crescente dos direitos do povo e da classe trabalhadora.

Aqui se ressaltam, portanto, dois grandes fatores que determinam a necessidade de as forças populares e progressistas elaborarem um novo projeto nacional. Primeiro: vigorosamente repelir a tentativa das grandes potências capitalistas de subordinarem o nosso país aos ditames de uma ordem neocolonial. Segundo: livrar o Brasil desse regime ultraliberal, autoritário, contra o povo e contra a Nação, que vem sendo imposto pelo governo Temer e pelos partidos conservadores e as grandes forças econômicas internas e externas que lhe dão apoio.

Um Projeto Nacional de Desenvolvimento que dê resposta aos dilemas e desafios da contemporaneidade. E que tenha em conta as ameaças, mas também as oportunidades, de um cenário internacional, no qual a crise da globalização neoliberal e a emergência de novos polos de poder que superam a realidade de um mundo regido por uma única superpotência são fatores que favorecem a realização de projetos nacionais de desenvolvimento soberano, autônomo e próprio. Um Projeto Nacional de Desenvolvimento situado na dinâmica da história nacional e no curso concreto da trágica realidade atual de nosso país.

2) Elementos para um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento

As Fundações signatárias entendem que a elaboração de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento é uma obra coletiva. Deve conter o saber acumulado sobre a realidade brasileira de amplos setores da Nação e dos trabalhadores, pois é no curso da luta concreta, e em torno de ideias programáticas que descortinem o horizonte e as saídas para o Brasil, que se constituirá a convergência de amplas forças políticas, sociais, econômicas e culturais. Essa convergência é indispensável para retirar o país da crise e proporcionar-lhe a abertura de um novo ciclo político de prosperidade e melhora da vida do povo. Tendo em vista a contribuição com o debate já em andamento, no âmbito das forças populares e progressistas, destacamos tanto tarefas imediatas quanto diretrizes ou temas relevantes de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento.

a) Tarefas imediatas
- Restauração da democracia, do Estado Democrático de Direito, do equilíbrio entre os Poderes da República.

- Garantia da realização das eleições de 2018, com pleno respeito à soberania popular; e não a proposta casuística do parlamentarismo e do semipresidencialismo.

- Defesa da soberania nacional e do patrimônio do Brasil, contra as privatizações e concessões criminosas, em especial da Petrobras e da riqueza do pré-sal. Defesa da Petrobras, da Eletrobrás e das empresas brasileiras estratégicas ao desenvolvimento.

- Retomada imediata do crescimento econômico. Para tal, deve-se focar na elevação dos investimentos, no estímulo à produção e à geração de empregos. Manutenção dos direitos do povo, valorização do trabalho, distribuição de renda, redução das desigualdades sociais e regionais.

- Defesa do patrimônio público, combate à corrupção com os instrumentos do Estado Democrático de Direito e a implementação das reformas estruturais democráticas.

b) Diretrizes para um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento

- Articulação sistêmica da soberania nacional e da questão social, com ênfase na redução das desigualdades sociais e afirmação da causa democrática. Pelos condicionantes da realidade mundial e da presente situação nacional, ganha relevância o desenvolvimento soberano do país como vértice para se realizarem as amplas potencialidades do Brasil e do seu povo. Realização progressiva das reformas estruturais democráticas, convergentes com um novo projeto nacional, que impulsionem o desenvolvimento e resultem em distribuição de renda.

- Estado nacional forte, portador de um projeto para a Nação, refratário à concepção oportunista e omissa do Estado mínimo neoliberal. Estado reestruturado por reformas que o democratizem, como a do Judiciário e da Política. Estado capaz de defender os interesses do país e repelir as imposições do rentismo e do imperialismo. Reforma Administrativa: Novos métodos de profissionalização, valorização, seleção e formação da burocracia estatal. Estado capaz de planejar e impulsionar o desenvolvimento voltado para assegurar os direitos da maioria do povo brasileiro. Estado que promova um novo Federalismo que busque erradicar as desigualdades regionais e os desequilíbrios nas relações institucionais entre a União, o Distrito Federal, estados e munícipios.

- Ampliação e fortalecimento da democracia, aumento da participação do povo nas decisões do País, com o aprimoramento das formas de democracia direta e participativa. Enfrentar a crise de representatividade política com uma efetiva reforma política democrática. Democratizar a comunicação, hoje monopolizada, e assegurar à sociedade efetivo direito à informação e à interpretação plural dos fatos.

- Defesa da soberania nacional, do patrimônio e da economia nacional, da soberania energética. Política Externa que promova a inserção soberana do Brasil no cenário mundial, diversifique os parceiros comerciais, fortaleça o desenvolvimento do país, defenda a paz e a autodeterminação dos povos e promova a integração com os vizinhos e o conjunto dos países latino-americanos e caribenhos. Aplicar políticas, assegurar meios e recursos para fortalecer a Defesa Nacional – o que requer garantia de crescente modernização e robustecimento das Forças Armadas para o cumprimento de sua missão constitucional e exclusiva defesa da soberania nacional.

- Retomada do crescimento econômico associado à redução das desigualdades sociais, geração de empregos e distribuição de renda. Questão essencial para o país sair da crise é superar a recessão e retomar o crescimento. Além do papel do Estado, já assinalado como planejador e indutor do desenvolvimento, é imperativo elevar a taxa de investimentos públicos e privados. Incentivar os investimentos produtivos e desestimular a especulação financeira e rentista. O reaquecimento da economia e a sua retomada requerem ações simultâneas de política econômica. O indispensável papel dos bancos públicos, em especial do BNDES, como base do financiamento de longo prazo que deve ser restaurado; os spreads bancários devem ser reduzidos e o consumo popular incentivado. É necessário buscar o acesso a investimentos externos, como o do Brics (acrônimo de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). É decisivo o papel das estatais, especialmente da Petrobras. Impõe-se, igualmente, uma nova política macroeconômica que supere o longo ciclo de juros elevadíssimos e câmbio apreciado com danosas consequências, entre as quais o processo de desindustrialização. Essa nova orientação deve ter a missão de expandir e sustentar investimentos em infraestrutura e inovação tecnológica, reduzir estruturalmente a taxa real de juros, manter sob controle a dívida pública, assegurar o equilíbrio fiscal do Estado e defender a moeda. O crescimento da economia a taxas robustas deve estar voltado e associado à redução das desigualdades sociais. Nesta direção se ressalta a urgência de se efetivar a Reforma Tributária progressiva que tribute mais os detentores de fortunas, as riquezas e rendas elevadas; promova gradual desoneração da produção e do consumo; e desonere a remuneração do trabalho. A redução das desigualdades sociais e regionais fortalece e dinamiza o mercado interno – o que, por sua vez, incrementa o crescimento econômico.

- No contexto da chamada 4ª Revolução Industrial, o Brasil é desafiado a se reindustrializar e modernizar seu parque produtivo. Há fortes imposições externas e internas no sentido de restringir o Brasil à condição de mero exportador de commodities, que devem continuar a ser valorizadas, mas não podem ser absolutizadas como único trunfo econômico do país. A indústria segue como um setor-chave para o desenvolvimento, para a oferta de melhores empregos, para a inovação tecnológica e, consequentemente, para o aumento da produtividade do trabalho. Impõem-se investimentos elevados em ciência, tecnologia e inovação que alavanquem a indústria nacional a um novo patamar tecnológico, credenciando-a a competir na acirrada disputa do mercado mundial. É preciso aperfeiçoar a institucionalidade do Sistema Nacional de CT&I, atuando em estreita ligação com os estados, com a comunidade científica e tecnológica e com as organizações empresariais. Setores como os de bem de capital e da Defesa, a cadeia produtiva do petróleo, gás e biocombustíveis, fármacos e petroquímica, a construção civil e a agropecuária têm rico potencial de alavancar o crescimento econômico, na perspectiva de superação da dependência do setor primário-exportador na balança de pagamentos. A Petrobras deve ser fortalecida, o regime de partilha na área do pré-sal deve ser mantido, bem como a política de conteúdo local. A política industrial requer uma forte infraestrutura que integre e articule as regiões do país, bem como a produção em grande escala de energia a partir de fontes limpas, uma vez que o país as possui em elevado potencial.

- Restabelecimento de políticas públicas necessárias à redução progressiva das desigualdades de renda e de oportunidades com: a retomada da geração de emprego e renda, a partir da estratégia do Estado, impulsionando o setor privado; a valorização do trabalho; a efetiva garantia dos direitos sociais; medidas para elevação da renda do trabalho e da massa salarial; política institucionalizada de valorização do salário-mínimo e garantia de aposentadoria digna; apoio ao cooperativismo, ao associativismo e à economia solidária; recuperação das políticas de combate à fome, fortalecendo o conjunto de políticas de inclusão social; e realização das reformas Urbana e Agrária.

- Proteção do meio ambiente com desenvolvimento sustentável de todos os biomas e regiões, defesa da biodiversidade e do nosso patrimônio genético. A sustentabilidade do desenvolvimento impõe que os avanços socioeconômicos sejam complementados – ao invés de se oporem – pela proteção e pelo uso sustentável do meio ambiente. Atenção especial à segurança hídrica, pois, embora o país possua 12% da reserva mundial de água doce, ela segue enfrentando riscos de desabastecimento.

- Fortalecimento da Educação como um setor estratégico do desenvolvimento nacional. O direito à educação é fundamental para que seja materializado todo o conjunto de direitos humanos e sociais, e construída a justiça social. Fortalecer a educação pública tendo como eixo o Plano Nacional de Educação (PNE) que, entre outras metas, fixou como objetivos: 10% do Produto Interno Bruto (PIB) no setor e a educação integral para os ensinos fundamental e médio.

- Resgate, criação e fortalecimento das políticas sociais universais que venham a assegurar o direito ao trabalho digno, à seguridade social, à previdência, à saúde e à assistência social, à educação e à cultura.

- É indispensável o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), com mais investimentos, aprimoramento da gestão, valorização e formação dos profissionais de saúde, implementação de programas e projetos de promoção da saúde e prevenção das doenças.

- O tema da Segurança Pública assume grande importância devido ao crescente número de perda de vidas, de vítimas de delitos e violências, afetando sobretudo o povo e as comunidades das periferias das cidades. Impõe-se uma política efetiva de redução desses indicadores. As estratégias de prevenção devem ser articuladas com estratégias de coerção qualificada, com foco em informação, tecnologia e gestão. É preciso construir um Pacto Federativo que estabeleça as competências da União, de estados e munícipios. Pacto este que pode ser estruturado em três eixos: política nacional de redução de homicídios; política criminal e prisional de âmbito nacional; e cultura da paz e valorização da vida. É preciso, também, uma reforma penal e penitenciária que elimine a caótica situação dos presídios do país. De igual modo, impõe-se uma revisão completa da política atual de combate ao tráfico de drogas, patrocinando um amplo debate sobre os limites da legislação relativa ao consumo de entorpecentes e os efeitos desastrosos da chamada “guerra às drogas”.

- A emancipação das mulheres é uma condição indispensável para o avanço civilizacional. São necessárias políticas públicas que contribuam para superar preconceitos e discriminações e combatam eficazmente a violência contra elas desferida. E, ainda, políticas que incentivem e assegurem seus direitos na esfera do trabalho, na educação, na saúde e promovam seu empoderamento.

- Na esfera dos direitos humanos e no esforço de construção de uma sociedade que supere preconceitos, destaca-se a luta contra o racismo e por políticas de promoção da igualdade social para os negros; pela proteção, efetivação e garantia dos direitos das etnias indígenas; por políticas de combate às opressões e discriminações que desrespeitem a liberdade religiosa; pela defesa da livre orientação sexual, dos direitos da população LGBT, combate às violências e discriminações de que são vítimas; pela garantia dos direitos de crianças, adolescentes, jovens e idosos; e por políticas de acessibilidade universal para as pessoas com deficiência.
Finalmente, as Fundações que firmam este Manifesto sublinham uma vez mais que um novo Projeto Nacional de Desenvolvimento demanda o trabalho de um número infindável de mãos, cérebros e corações. O texto que ora apresentam para exame e debate não é um ponto de chegada, mas sim de partida. Convidamos outras Fundações e instituições congêneres do campo democrático, e lideranças e personalidades de diversos setores da sociedade e dos movimentos, a se agregarem ou dialogarem conosco para o êxito da importante tarefa em tela. Tal como a realidade vem demonstrando não será fácil, mas o Brasil – com a união e a luta das forças progressistas da Nação, do povo e da classe trabalhadora – vencerá uma vez mais!

Brasília, 20 de fevereiro de 2018

Francisvaldo Mendes de Souza  
Presidente da Fundação Lauro Campos
Manoel Dias  
Presidente da Fundação Leonel Brizola-Alberto Pasqualini
Marcio Pochmann 
Presidente da Fundação Perseu Abramo
Renato Rabelo  
Presidente da Fundação Maurício Grabois
 

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