Internacional
Edição 142 > Roberto Morena: um militante operário brasileiro na guerra civil espanhola
Roberto Morena: um militante operário brasileiro na guerra civil espanhola
*Rio de Janeiro, 7/6/1902
+Praga, 5/9/1978

A revista Princípios relembra os 80 anos do início da guerra civil espanhola e, ao mesmo tempo, homenageia os militantes brasileiros que participaram daquele conflito ao lado das forças democráticas e antifascistas, publicando o artigo do histórico dirigente comunista Roberto Morena (1902-1978). O texto, inédito no Brasil, saiu originalmente em Études Brésiliennes, n. 2, de julho de 1975 – uma revista editada na França por exilados brasileiros, ligados ao antigo Partido Comunista Brasileiro (PCB)
O operário Roberto Morena ingressou no Partido Comunista do Brasil (PCB) logo após a sua fundação em março de 1922. Como grande parte dos novos comunistas, ele tinha vindo do anarcossindicalismo. Logo se tornaria uma das principais lideranças sindicais e operárias brasileiras. Em 1929 elegeu-se secretário-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) – primeira central sindical dirigida pelos comunistas.
Preso em 1932 por seu envolvimento numa greve dos trabalhadores paulistas, ficou internado na Ilha Grande e depois foi deportado para o Uruguai. Voltando ao país, ajudou a organizar a Aliança Nacional Libertadora (ANL) no Rio Grande do Sul. Alguns meses depois dos levantes armados, ocorridos em novembro de 1935, foi preso novamente. Foi solto durante o breve período de liberalização do regime – denominado de “macedada”. Logo em seguida, ocorreria o golpe que imporia o Estado Novo.
Uma reunião do Comitê Central decidiu que ele e mais alguns camaradas – a maioria militares – deveriam viajar para a Espanha, onde ocorria uma guerra civil sangrenta desencadeada por forças monárquico-fascistas lideradas pelo general Francisco Franco. Os brasileiros engajaram-se nas Brigadas Internacionais, ao lado das Forças Republicanas. Ali, Morena cumpriu um importante papel: foi indicado para “comissário político”, ligado ao Partido Comunista da Espanha (PCE), e se tornou o principal dirigente de mais de uma dezena de brasileiros que combatiam naquele país. Entre eles se encontravam Apolônio de Carvalho, Dinarco Reis, David Capistrano, José Gay da Cunha, Hermenegildo de Assis Brasil, José Correa de Sá e Eneas Jorge de Andrade. A quase totalidade deles era de militares que participaram do Levante de 1935.
Com a derrota republicana, Morena teve que fugir para o território francês e acabou sendo confinado num campo de concentração na Argélia. Depois de algum tempo, foi enviado à URSS, onde trabalhou como operário. Retornou ao Brasil em 1941 – um pouco antes do ingresso do país na Segunda Guerra Mundial. Acabou preso em março de 1942 e solto um ano depois. Livre, voltou a exercer sua antiga profissão de carpinteiro e passou a trabalhar clandestinamente na reorganização do Partido Comunista e do movimento sindical, duramente atingido pela repressão varguista nos anos anteriores.
Morena esteve por trás da criação do Movimento Unificador dos Trabalhadores (MUT) no final do Estado Novo e foi indicado para a secretaria geral da Confederação dos Trabalhadores do Brasil (CTB), criada em 1946. Elegeu-se deputado federal em 1950 pelo Partido Trabalhista Republicano (PTR), quando o PCB já havia sido colocado na ilegalidade. Seria o único comunista no parlamento federal naquela legislatura. Quando houve a cisão dos comunistas brasileiros entre 1961 e 1962, optou pelo Partido Comunista Brasileiro, que ficou com a sigla PCB. O Partido Comunista do Brasil adotaria a sigla PCdoB.
Depois do golpe militar de 1964, Morena teve os seus direitos políticos cassados e foi obrigado a exilar-se. Passou por Uruguai, México, Chile e Tchecoslováquia. Morreu no exílio europeu em 1978. Parte de seus arquivos foi doada ao Archivo Storico del Movimento Operaio Brasiliano (ASMOB) na Itália e hoje se encontra no CEDEM-UNESP. Por fim, deixamos os nossos agradecimentos a José Luiz Del Roio e ao CEDEM-Unesp que nos cedeu cópia deste artigo.