Editorial
Edição 142 > Voto do povo para restaurar a democracia
Voto do povo para restaurar a democracia

O golpe político-midiático-jurídico-policial segue o trâmite. Pois, agora, os golpes contra a democracia tramitam em vez de marcharem.
Na comissão especial do impeachment do Senado Federal, apesar de sua composição amplamente constituída por membros da bancada do golpe, a defesa da presidenta Dilma Rousseff, conjuntamente com senadores e senadoras partidários da democracia, tem demonstrado com fatos, argumentos, depoimentos que não houve crime de responsabilidade. Não há fundamento jurídico, não há base legal para o impeachment.
Somando-se à inexistência de crime, com perfil e conteúdo retrógrados do governo interino, proferir o voto “sim” não é algo singelo – o que provoca certa incerteza sobre o resultado do Julgamento.
Consciente disso, o governo interino transformou o Palácio do Planalto e do Jaburu num “feirão” de negócios. Escancaradamente, com o louvor da grande mídia, ministérios e outros cargos são barganhados por votos.
O déficit fiscal foi artificialmente esticado para 170 bilhões reais com o fito de se liberar verbas, atender pedidos, conceder aumentos, acudir desesperados, desde que as “bondades” resultem em votos ou promessas de votos que possam assegurar a condenação da presidenta Dilma.
Austeridade, austeridade mesmo, somente contra o povo e os trabalhadores. “Medidas impopulares” virão em breve – disse o usurpador da cadeira presidencial, Michel Temer. As reformas da previdência e do trabalho, já anunciadas, irão cortar e mitigar direitos, o aumento da idade mínima para 70 anos para aposentadoria e a terceirização são apenas a ponta do iceberg do que está por vir.
A PEC (Proposta de Emenda Constitucional), que estabelece teto para os gastos públicos sob o pretexto de sanear as contas públicas, na verdade tem por objetivo depenar e apequenar o Estado Nacional, ao ponto de ele se tornar incapaz de alavancar o desenvolvimento soberano do Brasil e de garantir os direitos sociais que, à custa de muita luta, foram grafados na Constituição de 1998.
Além de tudo isso, ainda há o conluio de Michel Temer com Eduardo Cunha, o elo que não se desfaz. Eduardo – a quem Michel deve a posse ilegítima da cadeira presidencial – cobra agora algum tipo de salvação, ante a cassação e a cadeia, que como urubus giram em torno da cabeça dele.
Temer parece inovar: Golpe não se perpetra, golpe se compra com moedas de todos os naipes, sobretudo de ouro.
Todavia, apesar de a grande finança exercer a chefia de um poderoso arco de forças políticas e sociais, de dentro e de fora do país para consumar o golpe, ele ainda pode ser derrotado sim.
O Julgamento no Senado está previsto para a segunda quinzena de agosto e, em virtude da instabilidade que reina, podem surgir fatos que joguem ainda mais fermento no impasse a que o golpe empurrou o país. Avoluma-se entre o povo, e mesmo em setores das camadas médias, a repulsa ao governo interino.
As manifestações da resistência democrática que tiveram um natural refluxo desde 12 de maio, mas que prosseguem em centenas de “fustigamentos” assemelhados à tática de “guerra de guerrilhas”, não se descartam – que voltem a emergir com volume e amplitude.
Cresce, também, a bandeira do plebiscito por eleições direitas para presidente. Bandeira que tem apelo entre o povo e também entre integrantes do Senado Federal que darão a última palavra no Julgamento. Essa bandeira nas mãos dos trabalhadores e de amplos setores democráticos – daqui por diante e na retal final desse processo – descortina uma alternativa que pode contribuir para a derrota do golpe no Julgamento do Senado, trazendo de volta a presidenta Dilma à cadeira presidencial, e expurgando o ilegítimo Michel Temer.