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Internacional

Edição 141 > Pequena história de um século da Grande Revolução de Outubro

Pequena história de um século da Grande Revolução de Outubro

Bernardo Joffily
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*Nesta sétima parte (de um total de 10) da série de artigos sobre a Revolução Russa, o jornalista Bernardo Joffily aborda os anos de ouro da experiência soviética.

Com o triunfo sobre o nazi-fascismo, a URSS deixou para trás o isolamento internacional quase absoluto que vivera desde a Revolução de 1917, consolidou o processo revolucionário internamente e ajudou a experiência socialista a se espalhar pelo mundo, tirando o sono dos Estados Unidos7.

Os anos de ouro da experiência soviéticaO decênio que se seguiu à Segunda Guerra Mundial foi a fase culminante da trajetória da União Soviética.

Em todas as frentes - desde a economia até a política e os primeiros passos da Corrida Espacial com os Estados Unidos, no front interno e no das relações internacionais -, o avanço foi notável a ponto de ser reconhecido até pelos mais encarniçados inimigos do socialismo.

Ao passo que, em contrapartida, os problemas, obscurecidos pelos êxitos, permaneceram incubados e só cobrariam seu tributo nas décadas seguintes.

Segunda potência econômica do mundoA URSS fora, ao lado da Polônia, o país mais devastado pela guerra.

Quando o Terceiro Reich se rendeu, em 1945, a produção metalúrgica e mineira reduzia-se a 40% daquela de 1940 e a de alimentos a 60%, o país perdera 137 mil tratores e mais de um terço do equipamento ferroviário.

Porém, a recuperação não foi menos impressionante.

Ao Longo do Quarto e Quinto Planos Quinquenais (1945-1955), a economia planificada mostrou, mais uma vez, ser imbatível em ritmos de crescimento extensivo - embora, conforme veremos mais adiante, não obtivesse o mesmo desempenho em matéria de desenvolvimento intensivo.

Conforme os dados do levantamento mundial realizado pelo economista e historiador britânico Angus Mad­dison, da Universidade de Groningen, o Produto Interno Bruto (PIB) soviético passou nesse período de US$ 334 bilhões (1945) para 648 bilhões (1955), de 7,4% do PIB mundial para 9,5% e de 20,2% do PIB estadunidense para 35,8%.

Com esse salto, a economia soviética passou a ser, pela primeira vez, a segunda maior do planeta, atrás apenas daquela dos Estados Unidos - que não sofreram as destruições causadas pela Segunda Guerra.

Caso esse ritmo se mantivesse, o PIB da URSS suplantaria o dos EUA por volta da virada para os anos 1970.

Fim do -socialismo num só país-Com o triunfo sobre o nazi-fascismo, a União Soviética deixou para trás o isolamento internacional quase absoluto que vivera desde a Revolução de 1917.

Nos países do Leste Europeu libertados pelo Exército Vermelho (Tchecoslováquia, Hungria, Polônia, Romênia, Bulgária, Iugoslávia, Albânia e a parte oriental da Alemanha) a reconstrução seguiu um curso não capitalista.

Acabava-se assim o longo período da -construção do socialismo num só país-, que tanta polêmica provocara entre Stálin e Trotsky nos anos 1920.

O socialismo já não se confinava a um único Estado, ainda que imenso.

Dos escombros da Segunda Guerra surgiu todo um campo socialista, liderado pela URSS.

A partir de 1949 o Conselho para Assistência Econômica Mútua (Comecom) passou a concatenar as economias do bloco conforme um plano conjunto.

As revoluções na China, Vietnã e CoreiaA expansão do campo socialista na Ásia foi ainda mais significativa - por suas dimensões e também por sua solidez.

Na Europa do Leste, o papel do Exército Vermelho Soviético foi determinante para as trajetórias socializantes - exceto nos casos da Albânia, onde a guerrilha expulsou os nazi-fascistas sem ajuda direta de tropas estrangeiras, e da Iugoslávia, onde esta foi apenas complementar (e que, já em 1948, se distanciaria do bloco socialista).

Já as revoluções em países asiáticos tiveram raízes próprias mais profundas, o que iria se mostrar decisivo no fim do século 20, como a história haveria de mostrar.

Na China, o Partido Comunista de Mao Tse-tung (1893-1976) travava desde 1927 uma guerra popular prolongada, com os camponeses como força principal, a guerrilha como forma de luta dominante e o conteúdo de uma revolução de libertação nacional, anti-imperialista e antifeudal.

Durante a Segunda Guerra, o país foi ocupado pelo Japão, aliado da Alemanha nazista, e os guerrilheiros de Mao destacaram-se na resistência ao invasor.

Expulsos os japoneses, seguiram-se quatro anos de guerra civil contra a reação interna (1945-1949); Stálin, em princípio, mostrou-se cético sobre esse desdobramento, mas admitiu seu erro quando os fatos o desmentiram.

Em 1º de outubro de 1949, depois que as tropas reacionárias remanescentes fugiram para a ilha de Taiwan, Mao proclamou em discurso na Praça da Paz Celestial que -a China não está mais à venda-.

Com o triunfo da revolução popular, o país mais populoso do mundo - 544 milhões de habitantes em 1949, um quarto da humanidade - enveredou também pelo caminho do socialismo.

O Vietnã, colônia da França desde o século 19 (formava a Indochina Francesa, junto com o Laos e o Camboja), também foi ocupado pelo Japão durante a Guerra Mundial, e igualmente ali a resistência foi encabeçada pelos comunistas do Partido dos Trabalhadores do Vietnã (que retornaria ao nome de Partido Comunista em 1976), liderados por Ho Chi Minh (1890-1969), poeta e ex-marinheiro em navios da metrópole francesa, quando chegou a viver algumas semanas no Rio de Janeiro.

Em 1945, expulsos os japoneses, Ho proclamou em Hanói a República Democrática do Vietnã, de orientação socialista.

Os franceses tentaram retomar o posto de metrópole colonial, mas defrontaram-se com encarniçada resistência.

Seguiram-se nove anos de guerra anticolonialista contra a França, vencida em 1954 na estratégica Batalha de Diem Bien-Phu.

A França, militarmente derrotada, retirou-se e o país foi dividido ao meio, no paralelo 17 - o Vietnã do Norte, socialista, e o do Sul, sob ocupação militar dos EUA, até a reunificação em 1975, após uma guerra ainda mais longa contra a agressão neocolonialista dos norte-americanos.

Da mesma forma na Coreia, colônia do Japão desde 1905, os comunistas liderados por Kil Il-sung (1912-1994) encabeçaram a resistência guerrilheira durante a Segunda Guerra.

Findo o conflito mundial, sobreveio a Guerra da Coreia (1950-1953), que custou 2 milhões de vidas e resultou em um impasse - até hoje o estado de guerra perdura, vigorando apenas um precário cessar-fogo: o país multimilenar foi dividido pelo paralelo 38, com o Norte encaminhando-se para o socialismo e o Sul seguindo a via capitalista sob a guarnição de bases militares e armas atômicas dos EUA.

Guerra Fria e bomba atômicaA Guerra Civil de 1945--1949 na China, a Guerra da Coreia e a Guerra de Independência do Vietnã e dezenas de outros enfrentamentos bélicos localizados compuseram, no âmbito planetário, o quadro da Guerra Fria.

Esta recebeu esse nome por, apesar dos muitos milhões de vidas humanas que ceifou, não ter evoluído para um conflito bélico mundial aberto, como os de 1914 e 1939.

Seu marco inicial, a -declaração da Guerra Fria-, foi um discurso do ex-primeiro-ministro britânico Winston Churchill, em Fulton, EUA, em março de 1946.

Portanto, a Aliança URSS-EUA-Inglaterra, que enfrentara o Terceiro Reich durante a Segunda Guerra, sobreviveu por não mais que alguns meses após o fim do conflito.

Logo os ex-Aliados se engalfinhariam em um novo confronto, dessa vez entre o mundo socialista, liderado pela URSS, e o capitalista, tendo à frente os EUA.

Foi um enfrentamento desigual, tanto pela natureza política e social dos dois campos como pelo poderio econômico e militar, que favorecia, de longe, o bloco ocidental-americano.

Desde os bombardeios que destruíram as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945, o exército estadunidense contava com a bomba atômica.

A União Soviética fez seu primeiro teste de nuclear em 1949, nunca chegando a fazer uso bélico da bomba.

Em 1951, Stálin comentou a respeito:-Os políticos dos Estados Unidos não podem deixar de saber que a União Soviética se coloca não somente contra o emprego da arma atômica, como também pela sua proibição e pela cessação de sua fabricação.

Como se sabe, a União Soviética já reivindicou por várias vezes a proibição da arma atômica e todas as vezes em que o fez esbarrou com a recusa das potências que constituem o bloco do Atlântico Norte.

Isso significa que, em caso de agressão dos EUA contra o nosso país, os círculos governantes dos Estados Unidos empregarão a bomba atômica.

É precisamente esta circunstância que obriga a União Soviética a possuir a arma atômica para receber os agressores devidamente preparada.

Certamente, os agressores gostariam que a União Soviética estivesse desarmada em caso de agressão contra ela.

Mas a União Soviética não está de acordo com isso e pensa que é necessário receber os agressores devidamente preparada.

O fato é que os EUA sempre estiveram na dianteira da corrida nuclear, ainda que ambas as potências atômicas dispusessem de ogivas suficientes para varrer várias vezes com a existência da humanidade sobre a Terra, o que, paradoxalmente, terminou servindo de obstáculo à deflagração de uma outra -guerra quente-, devido à inibição criada pelo chamado -equilíbrio do terror-.

Nessa época, grande parte do esforço diplomático e propagandístico soviético voltou-se para a luta pela paz, tirando partido da forte repugnância que a carnificina de 1939-1945 provocara na opinião pública.

No mundo inteiro os Partidos Comunistas e os movimentos sociais sob influência destes hastearam a bandeira da paz.

O movimento contra a guerra jogou um papel, por exemplo, no Brasil, rechaçando as tentativas estadunidenses para envolver nosso país no conflito coreano, como aconteceu com a Inglaterra, Austrália e Nova Zelândia.

Os EUA criaram o bloco militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), em Washington, abril de 1949, em parceria com países europeus ocidentais e o Canadá, explicitamente sob a bandeira da contenção do comunismo nos marcos da Guerra Fria - ainda que, por medida de precaução, deixassem o controle das armas atômicas sob comando único e exclusivo do Comando Aéreo Estratégico dos Estados Unidos.

O Plano Marshall, de apoio estadunidense à reconstrução dos países europeus destruídos pela Segunda Guerra, também deveu muito mais a estes motivos do que a um suposto espírito de solidariedade da Casa Branca.

Em território estadunidense, a Guerra Fria assumiu os contornos do Macarthismo (o nome vem do senador republicano ultradireitista do Wisconsin Joseph McCarthy), uma campanha de perseguição a reais ou supostos comunistas que nos anos 1950 atingiu, entre milhares de outros, os cineastas Charles Chaplin e Orson Welles, os físicos Albert Einstein e Robert Oppenheimer, o dramaturgo Bertolt Brecht, os escritores Thomas Mann e Dashiell Hammett, as atrizes Dolores del Rio e Karen Morley.

A -teoria do dominó- tirava o sono dos EUAO lado capitalista-estadunidense era o mais forte na Guerra Fria, porém o campo socialista-soviético é que estava na ofensiva e acumulava avanços.

Afora os novos Estados socialistas do pós-guerra, citados acima, ele contava com a poderosa reserva do movimento anticolonialista na Ásia e África, onde os comunistas de cada país se engajavam, a exemplo da Índia, Indonésia, Iraque, África do Sul.

Ao mesmo tempo, nas metrópoles capitalistas do Ocidente os Partidos Comunistas haviam emergido da Segunda Guerra notavelmente fortalecidos, com destaque para os da França e da Itália, que na época chegavam a contar com os votos de mais de um quarto dos eleitores.

Nesse período, os EUA perdiam o sono com a -teoria do dominó-, formulada pelo presidente Dwight Eisenhower em 1954.

Segundo ela, tal como uma peça de dominó quando cai derruba a vizinha, -por contágio-, um país que se tornasse comunista tenderia a contaminar o vizinho com esse terrível efeito em cadeia.

As -estratégias de contenção- dos EUA com base na -teoria do dominó- serviram para tentar justificar o envolvimento militar direto dos norte-americanos na Coreia e no Vietnã.

Mais tarde, fundamentariam igualmente o apoio de Washington aos golpes de Estado e às ditaduras militares anticomunistas na América Latina.

A morte de StálinJosef Stálin conduziu a experiência soviética até sua morte, em março de 1953, aos 73 anos de idade, 30 como secretário-geral do PCUS e 12 como primeiro-ministro da URSS.

Meses antes, em outubro de 1952, após um longo intervalo de 13 anos desde o 18º Congresso do Partido Comunista (bolchevique), ele capitaneou o 19º Congresso do Partido, que a partir de então tirou o -bolchevique- de seu nome e passou a chamar-se simplesmente PC da URSS.

Stálin expressou a convicção de que a experiência socialista soviética estava inevitavelmente fadada ao sucesso: -Não há absolutamente força no mundo que possa entravar o movimento progressista da sociedade soviética.

Nossa causa é invencível.

É preciso segurar firmemente o leme e continuar o caminho sem ceder às provocações e às intimidações.

-Ao mesmo tempo, no encerramento do 19º Congresso, o dirigente bolchevique dedicou seu discurso a agradecer às mensagens de solidariedade vindas de outros países:-Para nós, é especialmente valiosa essa confiança, indicativa do empenho em apoiar nosso partido nas lutas por um futuro radiante para os povos, contra a guerra e pela manutenção da paz.

Seria um erro pensar que nosso partido, tendo adquirido enorme força, não mais precisasse de apoio.

Isso é falso.

Nosso partido e nosso país sempre precisaram e precisarão da confiança, da simpatia e do apoio dos povos irmãos estrangeiros.

A peculiaridade desse apoio consiste em que cada partido irmão, ao apoiar as aspirações pacifistas de nosso partido, demonstra também estar apoiando a luta de seu próprio povo pela manutenção da paz.

Stálin morreu no auge do seu prestígio, dentro e fora da URSS.

Ao longo de uma semana, 1,5 milhão de pessoas desfilaram diante de seu caixão, antes que o corpo, embalsamado, fosse depositado no mausoléu onde já estava exposto o corpo de Lênin, em um costume inusual e um pouco macabro.

Então, ainda estava bem viva a memória do papel do dirigente bolchevique georgiano na vitória da URSS sobre o nazi-fascismo, e mal iniciara o obstinado trabalho de desconstrução visando a transferi-lo da galeria dos grandes heróis para a dos piores vilões da raça humana.

Ao mesmo tempo, no mesmo ano de 1953, a repressão ao chamado -Complô das Batas Brancas- (por envolver um grupo de médicos) trazia de volta o clima persecutório dos expurgos da década de 1930.

Em seguida à morte de Stálin, a direção soviética viveu um período de descentralização: Nikita Kruschev (1894-1971) assumiu a secretaria geral do Partido.

George Malenkov (1902-1988) passou a ser o chefe de governo.

E Viatcheslav Molotov (1890-1986), de volta ao Ministério das Relações Exteriores, também participava do núcleo central dirigente.

* Bernardo Joffily é jornalista, tradutor, colaborador de Princípios e autor do Atlas Histórico IstoÉ Brasil 500 anos

 

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