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Brasil

Edição 141 > Stop Coup D État in Brazil

Stop Coup D État in Brazil

Cezar Xavier*
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Diante da autocensura imposta pela imprensa brasileira, visando à defesa do golpe institucional, restaram as suspeitas dos jornalistas estrangeiros que se recusam a acreditar que o Brasil permita um ataque tão inconsequente à sua democracia

A crise política jogou o foco da luz para partes escuras da realidade que evitávamos enxergar, até então.

Numa reviravolta inesperada, o rodriguiano -complexo de vira-latas- deixou de ser um recurso das elites para nos diminuir como povo, e se converteu em um pedido de socorro ao resto do mundo pelo lamaçal de minérios radioativos que rompeu de alguma barragem que nem conhecíamos e devastou reputações, princípios éticos, valores jurídicos, visões históricas consagradas, entre outras perdas inestimáveis.

A própria imprensa internacional parece perplexa diante dos deputados que transformaram o Brasil numa -republiqueta de bananas-.

Há vários exemplos, particularmente na TV, de jornalistas que romperam o limite da imparcialidade para expressar seu espanto com os fatos.

Embora a mídia local acuse a esquerda de defender uma -tese do golpe-, é evidente que quem milita por uma tese é a direita, em seu esforço por institucionalizar uma ruptura democrática.

A narrativa dissidente A crise política sem precedentes sequestrou toda uma classe de jornalistas para um discurso cínico e parcial.

Subitamente, o oligopólio nacional de imprensa mostrou que não está a serviço da informação, mas de interesses obscuros que começam a se expressar mais abertamente conforme o golpe se efetiva.

A novidade das redes sociais ajuda a fazer o enfrentamento, inclusive internalizando a voz da mídia estrangeira com uma eficiência que não havia em 1964.

O transe em que o Brasil se envenenou chegou ao ponto de precisarmos olhar para o que dizem aqueles que sempre nos viram pelo filtro do estereótipo e da arrogância do -velho mundo-, para termos uma referência mínima de interpretação.

Mundo afora, as sessões da Câmara e do Senado conduzidas como picadeiro de circo de horrores, desvelam muito do que já era perceptível nas manifestações perturbadoramente fascistas dos setores mais reacionários da sociedade.

Não se trata de recorrer a uma narrativa estrangeira sobre o Brasil, mesmo ela, ambígua em sua referencialidade.

Não se trata disso, mas de assumirmos que nossa narrativa é esse conflito de classes brutal e dissimulado, seguido do esforço de apagamento da memória coletiva.

Um conflito aparentemente anacrônico, que, no entanto, cabe perfeitamente na lógica do centro capitalista, onde os golpes foram dados há muito tempo, e os governos atendem a suas classes dominantes financeirizadas.

Anacrônico, mesmo, é que a imprensa imperialista não esteja justificando cada fase deste processo, pelo que ele tem de mais favorável ao mercado e aos interesses transnacionais.

Aparentemente, as regras da democracia liberal ainda significam alguma coisa no embate institucional.

Para desrespeitar a eleição, é preciso ter motivos mais relevantes que delitos de gestão fiscal.

Este parece ser o cerne da percepção estrangeira contemporânea.

Agora, tateamos terreno não mapeado, já que, por tantos feitos na última década, o Brasil cativou a atenção mundial, ao expressar uma diplomacia altiva, realizar megaeventos, sair do mapa da fome, aliar-se a emergentes e tomar iniciativas surpreendentes até para os conterrâneos que não estavam preparados para superar a vira-latice.

Desta forma, o comportamento da mídia mundial difere daquele de 1964, quando o Brasil começava a respirar modernidade, mas não foi capaz de capturar a indignação das democracias centrais com a brutalidade da intervenção militar.

A receptividade estrangeira à denúncia do atual golpe assume um aspecto simbólico bastante conhecido da esquerda.

Agitar a mídia estrangeira como tática para ecoar a resistência à ruptura democrática é característica de dissidentes e opositores de regimes autoritários.

Basta lembrar dos inúmeros exilados que denunciaram incansavelmente as torturas e perseguições do regime militar.

Amanhã será maiorComo observou a pesquisadora da Unicamp, Grazielle Albuquerque, a primeira estratégia de comunicação do governo Dilma, diante da irreversibilidade do golpe, foi chamar a imprensa estrangeira para denunciá-lo.

Segundo ela, o apelo a este artifício para ser ouvido, já que a imprensa local faz ouvidos moucos para tudo que diga respeito à defesa da democracia, mostra a fragilidade de grupos fora da hegemonia, como é o caso do governo Dilma.

À ofensiva governista somam-se manifestos, notas e resoluções públicas assinadas por juristas, jornalistas, representantes da classe artística, da sociedade civil e dos mais diversos setores que, para além da sociedade brasileira, se destinam à comunidade internacional.

Organismos internacionais, como centrais sindicais, entidades de classe, partidos e representações multilaterais como ONU, OEA e Unasul, de seu lado, respondem reverberando o repúdio.

Não há consenso ou homogeneidade, mas são muitos os exemplos da leitura questionadora feita por órgãos de imprensa estrangeiros sobre o que ocorreu nos últimos meses no Brasil.

Pouco importa que os jornais editorializem a denúncia do golpismo, como fez o britânico The Guardian.

O fato de dar espaço ao tema de forma constante e cada vez mais interessada só esmaga a retórica golpista num canto empoeirado de bancas de jornal, já que o país recebe milhares de jornalistas durante o mês de agosto para a Olimpíada, e o fluxo de manifestações teima em aumentar a cada dia, com um conteúdo muito distinto daquele da Copa de 2014.

O consórcio golpista que acreditava estar bem cercado de tecnicalidade para derrubar Dilma e seguir para a sombra e água fresca de uma praia nordestina, absolvido pela história, cada vez se encalacra mais, reagindo com desespero e ódio, tentando cercar os discursos da presidenta e as manifestações.

A defesa da democracia liberalÉ particularmente simbólico o destaque dado pelo New York Times, jornal estadunidense mais influente do mundo, e, no sentido oposto, a postura lamentável do Le Monde, referência da imprensa europeia, que assumiu uma visão golpista mesmo diante das cobranças de imparcialidade por seu próprio ombudsman e seus leitores.

O NYT surpreende, especialmente, se considerarmos a cobertura dada ao golpe de 1964, assumindo a leitura comprometida de Washington, que financiou aquela intervenção no governo João Goulart.

A linguagem imperialista compunha o vocabulário editorial: -Washington vê com simpatia causa rebelde brasileira-.

Em 1° de abril, o repórter Max Frankel revelava que o governo Lyndon Johnson não estava descontente com a destituição de João Goulart.

-Acreditava-se que, com apoio de trabalhadores, camponeses e estudantes comunistas, ele estaria planejando dissolver o Congresso e instaurar um regime sindicalista e socialista, possivelmente já neste 1° de maio-, dizia o texto sem fontes públicas.

Ainda opinando indiretamente, a reportagem fatídica criticava Jango por -falar em legalizar o Partido Comunista, lançar apelos veementes pela lealdade dos sargentos - passando por cima de seus superiores, buscar conceder direito de voto aos analfabetos, começar a adular os camponeses mais pobres e assinar uma lei de reforma agrária.

- Este era o perfil do NYT, há apenas meio século.

Dias depois, em 4 de abril, o mesmo jornal dava eco a protestos de setores da imprensa brasileira que denunciavam a violação de liberdades civis pela polícia e pelo exército, dando-se conta da fria em que se metera.

Foi o ex-presidente Lula que começou a usar o conceito, ainda timidamente, de golpe para descrever o que já avançava em meados do ano passado.

Só em 17 de março, durante a cerimônia que tentava dar posse a Lula como ministro da Casa Civil, foi que Dilma usou o termo publicamente.

Uma primeira ação estratégica para disseminar a percepção da esquerda ocorreu em 24 de março, quando Dilma convidou correspondentes estrangeiros para uma entrevista no Palácio do Planalto.

Reforça-se a onda de desconfiança internacional.

Mas é com o início do processo, e a histeria jeca da Câmara dos Deputados votando o impeachment, que a crítica ao golpismo vira consenso, pela inversão ética dos corruptos condenando uma presidenta honesta, sob a desculpa de atender uma demanda por moralização da política.

O NYT enfatiza a fragilidade da acusação de pedaladas fiscais, que, em tese, deveriam atingir muitos outros governantes, a começar de Michel Temer.

Além do espanhol El País, a fala da presidenta Dilma repercutiu no britânico The Guardian, inclusive com questionamentos à cobertura vergonhosa da imprensa brasileira.

Mesmo sem assumir uma defesa do governo brasileiro, o espaço e a cobertura dados ao tema por grande parte dos veículos de imprensa internacional sinalizam a neutralidade que o governo precisa para registrar seu recado.

Em larga medida, foram as grandes manifestações contrárias ao golpismo que provocaram a desconfiança daqueles jornalistas, que, até então, só sabiam das manifestações antipetistas, convocadas e fartamente cobertas pela mídia nacional.

A percepção da corrupção golpistaO jornal britânico The Independent viu a votação na Câmara contra Dilma como -uma tentativa descarada de remover uma presidente eleita democraticamente-, por meio de uma conjunção de -hostilidade da mídia, interpretações questionáveis da Justiça e da Constituição, e um nível impressionante de complôs e maldade por parte da oposição-.

-Seja qual for o destino da presidente Dilma Rousseff, a chance de o Brasil acabar com a corrupção foi perdida.

-Jornais mais à esquerda, como o francês Le Monde Diplomatique, têm sido enfáticos na exposição do golpe, por estarem habituados ao modus operandi da direita.

A lista também ganha nomes como Der Spiegel (Alemanha), Público (Portugal) e Página 12 (Argentina).

Até mesmo a distante rede Al Jazeera, que atinge cerca de cem países, fez uma longa matéria televisiva que abordava não só a crise política, como também a cobertura tendenciosa da mídia local.

-A operação Lava Jato domina o noticiário, e tem revelado de modo flagrante a posição tendenciosa da grande mídia.

Dilma Rousseff (.

) alega que tem estado na mira da grande mídia, que está sob monopólio de conglomerados de direita.

(.

) Contudo, para muitas pessoas que assistem as notícias, há a suspeita de que a cobertura está tão ligada à tentativa de provocar uma ruptura política quanto ao escândalo de corrupção-.

Este é parte do texto de abertura da reportagem de Bárbara Serra, da Aljazeera, que segue revelando o perfil das poucas famílias que monopolizam os meios de comunicaçdo país, além de definir o caráter elitizado das manifestações antipetistas.

A maioria dos veículos da imprensa internacional apoiava a narrativa da imprensa brasileira, até que as manifestações contra o golpe começaram a crescer e fazer frente às multidões de verde e amarelo.

O contraponto foi fundamental para alterar os rumos da narrativa internacional.

Foi a partir disso que as inúmeras cartas criticando o Le Monde por sua parcialidade levaram seu ombudsman a formalizar uma crítica ao jornal francês.

Os matizes editoriais de cada veículo também passam pela interpretação que fazem da realidade brasileira.

A revista The Economist e o Financial Times, por exemplo, são notoriamente conservadores e conhecidos por cobrir e orientar o mercado brasileiro numa direção neoliberal.

Publicações como essas, direcionadas às elites empresariais e financeiras, chegaram a pedir a renúncia da presidenta, apontando rumos para Michel Temer agradar o mercado.

No entanto, um consenso tácito entre os jornalistas é de que os golpistas estão mais lambuzados na jaca da corrupção do que o governo que querem derrubar.

O próprio silêncio da imprensa local sobre o tamanho da bandidagem internacional do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, em sua sanha vingativa contra Dilma, foi derrubado, em grande medida, pela mídia estrangeira.

Para esse espaço de lucidez, contribuiu o jornalista Glenn Greenwald, premiado com o Pulitzer.

Morador do Rio de Janeiro, foi visto pela mídia mundial como uma referência sobre o tema, responsável por uma das entrevistas mais contundentes a Christiane Amampour, da CNN, que, em seguida, foi ao Palácio entrevistar Dilma.

-Os plutocratas do Brasil, os ricos do Brasil, sempre odiaram o PT e não estão conseguindo derrotá-los nas urnas.

Então, essa (.

) é a grande chance de finalmente se livrar do PT.

Eles não conseguem ganhar numa eleição e por isso estão usando meios antidemocráticos para fazer isso-, resumiu.

-Você não pode (.

) remover uma líder eleita democraticamente, que acabou de ganhar uma grande eleição, 18 meses antes, porque é impopular, ou porque ela não está gerenciando bem a economia.

Essa é uma receita para coisas muito perigosas quando você começa a mexer com as mecânicas da democracia (.

).

Eles saíram de uma ditadura apenas em 1985 e é muito perturbador vê-los brincando com a democracia dessa maneira-.

As expressões de organismos internacionais em repúdio ou questionando o afastamento de Dilma, sem uma motivação criminal clara, foram e continuam sendo fundamentais para a reversão da narrativa da mídia, dentro e fora do Brasil.

Não apenas organizações de esquerda, como partidos, centrais sindicais e outros movimentos sociais, mas a própria recusa de alguns países (El Salvador, Venezuela, Cuba, Equador, Nicarágua, Uruguai, Bolívia, Rússia, China) em reconhecer o governo ilegítimo de Michel Temer provoca mal-estar.

Havana chamou o impeachment de um -golpe imperialista-.

Nicolás Maduro convocou uma manifestação em Caracas em apoio à presidente afastada.

O boliviano Evo Morales condenou o que chamou de -atentado à democracia- e o nicaraguense Daniel Ortega se disse indignado com o que descreveu como -bagunça jurídica e política-.

Mas o silêncio ensurdecedor de países -não bolivarianos- é o que mais enfraquece Temer, causando uma impressão de que esperam para confirmar se o novo governo não cai nos próximos dias.

A postura ofensiva do novo chanceler, José Serra, em atacar aqueles países, em tempos de Olimpíada, só atrapalha.

É bom ter claro, também, que a Argentina de Maurício Macri também se comportou de modo ambíguo.

Seu governo foi o primeiro a reconhecer o presidente interino, embora ainda não tenha telefonado para Temer, ao contrário do que o brasileiro esperava.

A chanceler Susana Malcorra expôs em entrevista ao jornal Clarín o motivo de a Argentina manter essa posição: -Do ponto de vista formal, não se pode dizer que o processo tenha desrespeitado a legalidade-, afirmou a ministra.

-Pode-se questionar se há legitimidade, que é o que gera esse desconforto para muita gente-, pondera.

-Depois que o Senado se posicionou, pareceu-nos que não havia outra saída a não ser o reconhecimento.

(.

) Precisamos de um Brasil forte, com instituições fortes.

Se o Brasil emperra, é algo desesperador para nós.

-, conclui Malcorra.

Personalidades de peso, como Luis Almagro, secretário da Organização dos Estados Americanos (OEA), e Adolfo Pérez Esquivel, prêmio Nobel da Paz de 1980, vieram ao Brasil para expressar apoio e solidariedade inequívocos à Dilma.

Na capital do Brasil, Almagro anunciou a sua intenção de fazer uma consulta à Corte Interamericana de Direitos Humanos, a respeito de um processo de impeachment que, segundo afirmou, -gera dúvidas e incertezas jurídicas-.

O secretário-geral da Unasul, Ernesto Samper, se expressou com firmeza, por considerar a gravidade dos golpes brandos que vêm se tornando rotina na região, desde o Paraguai, e agora o Brasil.

No mesmo dia em que o Senado aprovou a suspensão temporária da petista, Samper expôs publicamente a sua preocupação com a existência de -poderes impositivos- que -comprometem a governabilidade democrática da região-.

-As acusações de caráter administrativo que têm sido formuladas contra a presidenta Rousseff não justificam, ao nosso ver, um processo de destituição-, afirmou Samper.

-Se admitirmos essa tese, nenhum presidente estaria isento de, no dia de amanhã, por causa de uma ação meramente administrativa que se julga equivocada, poderia ser denunciado no Congresso de seu país e destituído-.

*Cezar Xavier, jornalista, integra a equipe de redação da revista Princípios e do portal Grabois

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