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Edição 128 > Seminário reúne delegações partidárias de 35 países, em São Paulo
Seminário reúne delegações partidárias de 35 países, em São Paulo
Entre os dias 13 e 14 de novembro de 2013, comunistas e dirigentes de esquerda de 35 países participaram do Seminário Tendências da Situação Internacional, promovido antes da abertura do 13º Congresso do PCdoB, no Anhembi, em São Paulo. O presidente do PCdoB, Renato Rabelo, apontou lições aprendidas com a atual crise, consequências e oportunidades de mudanças progressistas para as nações

A Secretaria de Relações Internacionaisdo PCdoB realizou entre os dias 13 e 14denovembro de 2013, no Palácio das Convençõesdo Anhembi, o -Seminário Tendências da Situação Internacional-, que contou com cerca de cem participantes, representando 50 partidos entre os 35 países presentes, que assistiram ao -13º Congresso do PCdoB-. O Seminário foi um espaço de um rico diálogo no qual as delegações puderam fazer um debate aprofundado a respeito da situação internacional, como a questão da crise, e das realidades políticas de seus países.
O Seminário debateu temas como a crise do capitalismo; o mundo em transição; a ofensiva imperialista e a resistência dos povos e nações; a integração da América Latina e Caribe; o internacionalismo e a luta pelo socialismo na atualidade. O secretário de Relações Internacionais, Ricardo Alemão Abreu, afirmou que estes temas contribuíram para apresentar aos amigos do exterior o debate brasileiro em torno do tema.
Reunir tantas forças, de diferentes matizes ideológicos, e de diversas partes do globo, reflete a resistência e confiança de dias melhores, a confiança da vitória do socialismo no mundo. Isso demonstra a influência política do PCdoB no debate mundial-, frisou o dirigente comunista, abrindo espaço de intercâmbio com os dirigentes partidários para ouvir um pouco sobre a avaliação de conjuntura de cada um.
A crise capitalista internacional e suas consequências principalmente nos países centrais foi o tema que norteou o debate. Embora nos países periféricos a crise não tenha se expressado com a mesma intensidade, a ofensiva imperialista tem seus reflexos em todo o mundo, por meio de reação bélica e acordos bilaterais assimétricos como resposta dos países ricos para garantir os recursos necessários à sua retomada econômica. Nos países onde os trabalhadores mais sofrem, por um lado, abre-se uma oportunidade de intervenção mobilizadora rumo a uma alternativa progressistas e, por outro, a direita e o seu pensamento conservador disputam as massas.
Capitalismo e imperialismo
Foi a partir desse debate que o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, abriu o Seminário apontando as lições que se impõem aos comunistas com a crise: -Podemos assistir ao relançamento da luta pelo socialismo, ainda que condicionada pela defensiva estratégica-, afirmou. Para ele, há um aspecto alentador na luta pelo socialismo em condições mais favoráveis, com a atual crise, pois se observa uma tendência ao declínio dos países imperialistas, ao passo que emergem novas lideranças na geopolítica internacional.
Rabelo apontou como os países socialistas resistem exitosamente à crise, a partir da percepção de que não há um modelo único de transição para o socialismo. Na América Latina, ele aponta, por um lado, experiências de relançamento da luta pelo socialismo no mundo, por meio de governos como os da Venezuela, Bolívia e Equador. Por outro lado, atualiza-se a visão leninista de imperialismo, com a ofensiva dos países ricos sobre economias e governos vulneráveis em sua soberania.
-O capitalismo não se desenvolve simetricamente, ao contrário. O desenvolvimento desigual é a chave para entender as dinâmicas estruturais desse sistema-, destaca Rabelo. Se em outros momentos, os países centrais se beneficiavam da exploração dos países periféricos, a teoria continua valendo pelos efeitos desiguais que se manifestam na economia pujante dos países periféricos com seus amplos mercados de consumo, formados a partir de políticas de distribuição de renda, enquanto os países desenvolvidos vivem uma brutal recessão.
Rabelo destaca a importância das medidas tomadas pelos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), grupo de países em desenvolvimento, na busca de proteção de suas moedas e fluxos de comércio.
As potências manobram para prolongar o status quo, todavia os países que emergem estabelecem uma nova ordem internacional de defesa da democratização e de reforma dos organismos das Nações Unidas. -No curso da luta para acelerar a correlação de forças, cabe às forças revolucionárias e progressistas valorizar o papel de coalizões contra-hegemônicas e contestadoras do status quo imperialista-, disse Renato Rabelo, citando as relações entre China e Rússia e a Aliança Ibas (Índia, Brasil e África do Sul).
Ele ainda evitou abordar a conjuntura brasileira, que será foco da intervenção multifacetada sobre o país, durante todo o 13º Congresso do PCdoB, inclusive por meio de seu Informe e do discurso da presidenta Dilma. Mas, mencionou que o Brasil tem sido porta-voz de posições progressistas no cenário internacional para solução de controvérsias que ocorrem à revelia da Carta da ONU.
O governo brasileiro tem priorizado a integração da América do Sul, como um tema prioritário da geopolítica. -Por isso, tem manifestado grande preocupação com a situação do Pacífico Sul-, disse Rabelo, citando o modo como os EUA tentam minar a integração do continente por meio de acordos bilaterais.
O PCdoB, como organização marxista-leninista, tem no internacionalismo um princípio constitutivo de sua organização e atuação. Lembrando isso, Renato Rabelo afirmou que o Seminário é parte de um esforço que deve ser intensificado para discutir temas políticos teóricos e ideológicos de grande importância para o cenário internacional contemporâneo.
Visões de esquerda
Após esta leitura inicial, as mais diversas línguas expressaram sua percepção sobre as lutas dos comunistas no mundo. Do lado dos países centrais do capitalismo, a realidade se mostra desencantadora, com a ditadura do capital financeiro se impondo sem concessões às mobilizações sociais e tirando qualquer protagonismo possível dos trabalhadores sobre as decisões. Foi nestes termos que se expressaram Dietmar Schulz, da esquerda alemã, ou a camarada canadense Margaret Villamizar; o camarada francês, Obey Ament; os britânicos Novjot Brar e Michael Chant, os italianos Marco Consolo e Francesco Maringio; ou ainda o membro do PC dos EUA, Gary Dotterman. Se, por um lado, todos percebem a movimentação da extrema-direita para ocupar as brechas de insatisfação na Europa, por outro, anima os europeus e estadunidenses a evidente redução do poder imperialista dos países centrais.
Nos países europeus onde a crise se manifesta de forma mais avassaladora, como Espanha, Grécia, Portugal e Chipre, evidencia-se a luta de resistência para sair da União Europeia, vista como o principal pesadelo dos países do sul da Europa, com as imposições desumanas da Troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional). O grego Lefteris Nikolaou, vivendo sob um regime violento e despedaçado pela crise, expressou a situação de dificuldades. O mesmo ceticismo diante da perspectiva de caos econômico permeou o discurso do português José Capucho e do representante da Galícia, Duarte Correa Pinheiro. A cipriota Vera Polycarpou denunciou a militarização das relações políticas, vivendo numa pequena ilha com duas bases da Otan, uma realidade que o russo Rashkin Valery também denunciou ao ver um cenário propício para grandes guerras.
Os asiáticos trouxeram sua visão peculiar ao apontar para a ameaça permanente do imperialismo bélico norte-americano sobre seus territórios, como é o caso de países socialistas como o Vietnã, de Nguyen van Kien, ou a Coreia do Norte, de Pak Kun Gwang. A preocupação com o meio ambiente foi mencionada pelos representantes do Laos (Buakeo Phumvongsay) e do Japão (Hiracu Sugawara), que vivem em meio ao turbilhão de catástrofes naturais causadas pelo aquecimento global.
Dentre os países árabes, o debate enfatizou o modo como o imperialismo dos EUA e da Europa se aproveitou das revoltas populares para favorecer setores religiosos no poder, em países onde os próprios religiosos estão divididos pelo sectarismo, como o Iraque, de Azet Salman Sadik, a Síria, de Hassam Abbas, e a Tunísia, de Farouk Jhinaoui. A questão palestina, por sua vez, esteve na pauta de debates revelando suas diversas facetas de instabilidade regional, pela voz do comunista libanês, Khaled Mahassen, ou dos palestinos Nader Bujah, Fauzi El-Masheem e Asem Abdalhadi. A África esteve representada nas dificuldades extremadas do Benin, de Gilbert Kouessi, na luta pela soberania do povo saaraui, representado por Hash Ahmed, e nos avanços econômicos e sociais da África do Sul, de Christopher Matlhako.
A maior delegação, como era esperada, veio de toda a América do Sul e do Caribe. Só a Argentina veio representada por cinco partidos, reafirmando com países como Bolívia, Venezuela e Uruguai um ciclo progressista com reformas profundas que mudam de forma inédita seus países. Países governados pela direita apontam para a necessidade de fortalecer a integração latino-americana para isolar as elites conservadoras, como é o caso da Colômbia e do Peru. O Paraguai veio representado por três lideranças de esquerda que denunciam em tom dramático a situação política de seu país, em que a ofensiva de direita contra as mudanças iniciadas por Fernando Lugo visa também a atingir os avanços da integração continental, abrindo as portas para os EUA. Ainda falaram em nome da resistência ao imperialismo na região do Caribe e da América Central delegações de países como Guatemala, Nicarágua, Panamá e Cuba.
*Cezar Xavier é editor executivo do Portal Grabois.
PARTIDOS PRESENTES NO 13º CONGRESSO DO PCdoB
1. ÁFRICA DO SUL Partido Comunista Sul-Africano
2. ALEMANHA Die Linke
3. ARGENTINA Frente Grande
4. ARGENTINA Frente Transversal
5. ARGENTINA La Campora
6. ARGENTINA Partido Comunista Congresso Extraordinário
7. ARGENTINA Partido Comunista da Argentina
8. BENIN Partido Comunista do Benin
9. BOLÍVIA MAS-IPSP
10. BOLÍVIA Partido Comunista da Bolívia
11. CANADÁ Partido Comunista do Canadá (ML)
12. CHINA Partido Comunista da China
13. CHIPRE AKEL
14. COLÔMBIA Marcha Patriótica
15. COLÔMBIA Partido Comunista Colombiano
16. COREIA Partido do Trabalho da Coréia
17. CUBA Partido Comunista de Cuba
18. EUA Partido Comunista dos Estados Unidos
19. FRANÇA Partido Comunista Francês
20. GALÍCIA União do Povo Galego
21. GRÃ-BRETANHA Partido Comunista da Grã Bretanha (ML)
22. GRÃ-BRETANHA Partido Comunista Revolucionário da Grã-Bretanha (ML)
23. GRECIA Partido Comunista da Grécia
24. GUATEMALA Aliança Nova Nação
25. IRAQUE Partido Comunista do Iraque
26. ITÁLIA Partido da Refundação Comunista
27. ITÁLIA Partido dos Comunistas Italianos
28. JAPÃO Partido Comunista Japonês
29. LAOS Partido Popular Revolucionário do Laos
30. LIBANO Partido Comunista Libanês
31. NICARÁGUA Frente Sandinista de Libertação Nacional
32. PALESTINA Fatah
33. PALESTINA Frente Popular para a Libertação da Palestina
34. PALESTINA Partido do Povo Palestino
35. PANAMÁ Partido do Povo do Panamá
36. PARAGUAI Partido Comunista Paraguaio - Frente Guaçu
37. PARAGUAI Partido Frente Ampla - Frente Guaçu
38. PARAGUAI Partido Popular Tekojojá - Frente Guaçu
39. PERU Partido Comunista do Peru - Patria Roja
40. PERU Partido Comunista Peruano
41. PERU Partido do Povo
42. PORTUGAL Partido Comunista Português
43. PORTUGAL União Democrática Popular
44. RUSSIA Partido Comunista da Federação Russa
45. SAARA OCIDENTAL Frente Polisario
46. SÍRIA Baath
47. TUNISIA Watad Unificado
48. URUGUAI Partido Comunista do Uruguai - Frente Ampla
49. VENEZUELA Partido Socialista Unido da Venezuela
50. VIETNÃ Partido Comunista do Vietnã
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