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Internacional

Edição 113 > A atualidade da luta anti-imperialista

A atualidade da luta anti-imperialista

José Reinaldo Carvalho
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O ambiente de derrota e dispersão que o movimento social, incluído o movimento pela paz, viveu no início dos anos 1990 vai sendo superado. A última década foi marcada por um novo despertar, um renascimento das lutas. O conteúdo fundamental que define a ação internacionalista hoje é o anti-imperialismo.

As aparências podem enganar, mas os fatos, inexoráveis, encarregam-se de desfazer as ilusões. Para alguns círculos acadêmicos, diplomáticos e da mídia monopolizada, o ambiente internacional é de distensão e tendente à afirmação da paz entre as nações. Mas a evolução dos acontecimentos revela um crescimento das tensões e o aumento dos perigos de guerra. Trata-se de uma tendência que se afigura desde o fim da guerra fria, período em que esse discurso era recorrente.

Quando no início dos anos 1990, o ex-presidente dos Estados Unidos, George Bush - em meio aos acontecimentos que conduziram ao fim da Guerra Fria e à primeira guerra contra o Iraque -, proclamou o advento da chamada Nova Ordem Mundial, estava na verdade anunciando um plano de dominação global cujas consequências se abateram sobre a humanidade ao longo das duas últimas décadas.

A proclamação da -nova ordem- visava a estabelecer os meios para percorrer -o novo século americano-. Seguiu-se um período de uso indiscriminado da força bruta, desprezo pela legalidade internacional e militarização crescente das relações internacionais.

A posição internacional dos Estados Unidos foi marcada pela denominada guerra infinita ou permanente ao -terrorismo-, que ao ser identificada não só com organizações e redes informais, mas com Estados nacionais classificados como integrantes do chamado eixo do mal, assumiu todos os contornos de guerra de agressão contra países e povos, sob o pretexto de promover ataques preventivos contra os que eram considerados terroristas ou protetores do terrorismo.

Em decorrência disso, foram desencadeadas as guerras de agressão ao Afeganistão e ao Iraque, e de Israel ao Líbano e ao povo palestino. Países independentes, como Síria, Irã e República Popular Democrática da Coréia, foram alvo de campanhas e ameaças de agressão. Surgiram novos focos de tensão, com a guerra do Cáucaso, a expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para o leste da Europa e a afirmação de novo conceito estratégico desse braço armado do imperialismo. A militarização se intensificou com a proliferação de bases militares, a criação do Comando Africano (Africom), a competição naval no Oceano Índico e o relançamento da Quarta Frota da Marinha de Guerra dos Estados Unidos na América Latina.

Obama: guerra com discurso de paz

Com a eleição do novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em novembro de 2008, a humanidade foi envolvida pela ilusão de uma mudança de rumos na situação internacional, que se traduziria na abertura de uma nova era de paz, convivência democrática entre as nações, segurança, respeito ao direito internacional, vigência dos direitos humanos e restauração do multilateralismo sob a égide de uma Organização das Nações Unidas (ONU) reformada e pró-ativa na solução pacífica dos conflitos.

Não acalentamos as mesmas ilusões. Mesmo considerando as diferenças de métodos e estilos entre os partidos Democrático e Republicano e o perfi distinto do presidente Obama comparativamente ao seu antecessor, devemos analisar os fenômenos com objetividade para procurar entender o que está em curso na realidade dos Estados Unidos e internacional.

O objetivo explícito de Barack Obama, manifestado desde a campanha eleitoral de 2008, é recuperar a liderança mundial dos Estados Unidos em todos os domínios - político, diplomático econômico -, fazendo valer, se necessário, o seu poder militar.

O tempo se encarregou de mostrar que, na prática, com Barack Obama não houve, não há nem haverá mudança essencial na política de guerra do imperialismo estadunidense.

As chamas da guerra continuam a arder no Iraque sob ocupação das tropas estadunidenses. O anúncio do plano de retirada em longo prazo não contribuiu para estabilizar a situação. A presença de tropas de ocupação e de contingentes mercenários continua a provocar escaramuças militares e incidentes políticos.

Líbia: novo front de guerra

Desde o dia 19 de março último está em curso mais uma guerra do imperialismo norte-americano, de seus aliados da União Europeia e da Otan. É a primeira da administração Obama, mas a terceira que tem de conduzir, porquanto herdou as guerras do Afeganistão e do Iraque.

Tal como todas as guerras recentes do imperialismo estadunidense e de seus aliados contra outras nações, esta é feita com falsos pretextos e conta com a cumplicidade de uma colossal e poderosa máquina de mentiras - os meios de comunicação, que preparam o terreno com a difusão de argumentos sobre a suposta violação dos direitos humanos, a perpetração de crimes contra a população civil e a desobediência a tratados internacionais.

Na verdade, os bombardeios na Líbia pela Otan fazem parte de uma estratégia global das potências imperialistas para reverter a seu favor os acontecimentos que têm abalado o mundo árabe e todo o Oriente Médio, a partir das vitoriosas rebeliões na Tunísia e no Egito.

Militarização da América Latina

Ultimamente passou para o centro da política do imperialismo norte-americano o aumento da presença militar na América Latina e no Caribe, como demonstram o relançamento da Quarta Frota, no apagar das luzes do governo de George W. Bush, e o acordo militar entre os Estados Unidos e a Colômbia que prevê a instalação de sete bases militares da superpotência do norte nesse país sul-americano.

Os Estados Unidos reativaram a Quarta Frota de sua Marinha de Guerra num momento em que a América Latina ruma para a consolidação de um bloco regional que se caracteriza pelas posturas solidárias, independentes e soberanas, construindo fóruns regionais - como o Mercado Comum do Sul (Mercosul), a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), a Aliança Bolivariana para as Américas (Alba) e o Conselho de Defesa Sul-Americano -, afastando-se objetivamente da tutela estadunidense. Hoje a região dá um salto qualitativo em seu processo de integração política e unidade com a criação da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).

A América Latina está vivendo, desde 1998, com a eleição do presidente venezuelano Hugo Chávez, uma etapa inédita em sua história política desde a primeira independência há 200 anos. Desde então, ocorreram muitas vitórias políticas eleitorais, inclusive no Brasil, fruto da acumulação de forças pelos povos, que levaram ao poder coalizões progressistas. Hoje, boa parte dos países da região é dirigida por governos democráticos, populares e anti-imperialistas que estão contribuindo para alterar a geopolítica mundial. O sentido mais geral dos fenômenos em curso na região é a formação de uma corrente transformadora e a acumulação de vitórias dos povos e países em termos de independência, soberania, democracia, mecanismos de participação popular, justiça, desenvolvimento e progresso social.

É nesse contexto que se torna inevitável a condenação pelas forças progressistas mundiais às estratégias guerreiras do imperialismo norte-americano e de seus aliados, à militarização e a todas as ameaças à paz. Por conseguinte, cresce a exigência de retirada das tropas de ocupação do Iraque e do Afeganistão e a libertação da Palestina, com a criação já do seu Estado nacional independente. Também aparece como tendência inexorável o reforço da solidariedade entre os povos latino-americanos na luta por sua independência e soberania, pela democracia e a integração, contra a ingerência do imperialismo estadunidense, contra a Quarta Frota e as bases militares.

Internacionalismo e patriotismo

A solidariedade internacional, o internacionalismo dos povos, o internacionalismo de massas são um traço essencial da ética e da linha política dos movimentos populares e progressistas. Temos em Marx, Lênin, José Martí e nos próceres das lutas pela independência em nosso continente as fontes doutrinárias que orientam tal conduta.

O internacionalismo, a solidariedade entre os povos estão intrinsecamente ligados ao patriotismo. Só é internacionalista aquele que ama seu país e luta pela emancipação nacional e social de seu povo. E só é verdadeiramente patriota quem sabe que os combates pela independência nacional não terão consequência se não estiverem vinculados com as lutas dos demais povos irmãos.

Não há nenhuma contradição entre o patriotismo e o internacionalismo.

Classes dominantes antinacionais

A partir de determinado momento na história - precisamente entre o final do século XIX e o início do XX - o capitalismo se transformou em imperialismo. Ele mudou de fase, transformou-se de capitalismo concorrencial em capitalismo monopolista. Transformou-se de capitalismo nos marcos nacionais em capitalismo que extravasou as fronteiras nacionais, de capitalismo que auferia lucros a partir apenas do investimento de capital nos setores internos da economia em um capitalismo que aufere lucros a partir de investimentos de capitais fora do país. Instaurou-se o mecanismo da exportação de capitais. Deixou de haver um capitalismo cujo lucro máximo era obtido apenas da espoliação da classe operária nacional e passou a obter seu lucro máximo a partir também da exploração dos povos colonizados de uma maneira geral. E até mesmo da dominação de nações inteiras. Foi aí que surgiu o fenômeno do neocolonialismo e do imperialismo.

Em decorrência disso, na atual época histórica na qual predomina o capital financeiro as classes dominantes locais exercem seu poder por meio das mesmas políticas chamadas globais e dos mesmos mecanismos supranacionais representados pelos dogmas neoliberais que consistem na abertura do mercado, no debilitamento do Estado nacional, nas privatizações etc. Esta é uma razão a mais para sermos internacionalistas. Porque essas políticas da burguesia internacional associada com as burguesias locais em grande medida se uniformizaram, uma vez que são as únicas correspondentes ao estágio atual do capitalismo.

Vivemos no Brasil, desde a primeira eleição de Lula, um momento político novo e carregado de esperanças na transformação social. Mas as classes dominantes são as mesmas de sempre. Abandonaram os interesses nacionais, ataram seus destinos aos do imperialismo e ao seu sistema econômico internacionalizado, traíram os interesses nacionais. É por isso que na boca da grande burguesia brasileira, o nacionalismo é letra morta, em suas mãos o patriotismo é uma bandeira esfarrapada. Não é possível ser nacionalista defendendo as políticas que a grande burguesia brasileira defende.

A política das elites nacionais é de aviltamento, fragilização e comprometimento da soberania nacional. O nacionalismo da classe dominante é falso.

Registro histórico

A história registra episódios importantes da solidariedade internacional no Brasil: o combate ao nazi-fascismo, a partir dos anos 1930; a luta para que o Brasil se incorporasse ao esforço de guerra dos aliados, inclusive com o envio de tropas ao front europeu da Segunda Guerra Mundial; a luta pela manutenção da paz no imediato pós-Segunda Guerra; registre-se a intensa, ampla, corajosa e heroica atividade dos lutadores pela paz, organizados pela ramificação brasileira do Conselho Mundial da Paz, precursora do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz); a luta contra a intervenção norte-americana na guerra da Coreia (inclusive os Estados Unidos pressionaram o governo brasileiro a enviar tropas para aquele país asiático, pressões que malograram pelas reações negativas que despertaram na opinião pública). As revoluções populares da segunda metade do século XX - nomeadamente a Revolução Chinesa, a Revolução Cubana, a Luta de Libertação Nacional do Vietnã, a Luta anticolonialista na Argélia e nas colônias africanas lusófonas - receberam a solidariedade dos movimentos sociais brasileiros.

A propósito, ressalte-se que a segunda metade do século XX foi marcada por grandes revoluções grandes acontecimentos no mundo. O século XX foi o século das lutas por uma nova sociedade, das revoluções anticolonialistas e anti-imperialistas, o século da descolonização da África, da Ásia e da afirmação da consciência nacional na América Latina.

Anti-imperialismo, conteúdo essencial

O conteúdo fundamental que define a ação internacionalista hoje é o anti-imperialismo. O objetivo central é derrotar as estratégias do imperialismo norte-americano, sua política de guerra, seu conservadorismo atávico, seus dogmas neoliberais, a ofensiva brutal que move contra a paz, a soberania nacional, a democracia e os direitos dos povos

A tarefa número um dos movimentos sociais no plano internacional é derrotar essas políticas. Porque este é o principal perigo que afronta a humanidade. E, obviamente, nos atinge de uma maneira ou outra. O Brasil não é uma ilha de bem-estar, conforto e tranquilidade. A nossa índole pacífica e a nossa cordialidade não nos previnem de ataques. O que nos prevenirá e defenderá serão as políticas corretas, as orientações justas, a nossa capacidade de unir o povo e lutar para defender a independência nacional, o progresso social e a paz.

Para derrotar essas políticas, é preciso levantar com a maior energia a voz de protesto dos povos contra as guerras de agressão e a luta contra os planos neocolonialistas dos EUA vis-à-vis a América Latina. Por razões históricas e pela trajetória que percorremos como povo e nação desde a proclamação da Independência até hoje, o Brasil tem feito parte do que se chama de sistema de poder do imperialismo norte-americano. Somos ainda considerados pelos estrategistas da Casa Branca o quintal desse imperialismo. Objetivamente, fomos enquadrados nessa categoria por razões históricas, geográficas e econômicas e pelo comportamento submisso das classes dominantes e dos governos que as representavam. Derrotar essas políticas é uma questão essencial para a trajetória, para a luta da libertação nacional e social do povo brasileiro.

Nesse contexto, é importante defender a soberania nacional, apoiando ao mesmo tempo os processos de integração e unidade continental na América Latina. É o caminho para o sepultamento definitivo do famigerado pan-americanismo do -corolário Roosevelt-.

Retomada das lutas

O ambiente de derrota e dispersão que o movimento social, incluído o movimento pela paz, viveu no início dos anos 1990 vai sendo superado. A última década foi marcada por um novo despertar, um renascimento das lutas. E esse renascimento foi implicando também o surgimento de uma série de novas forças políticas e novos movimentos, novas formas de articulação. Além disso, é preciso perceber que os EUA estão sofrendo muitas derrotas em suas aventuras bélicas e estão isolados politicamente. É preciso tomar em consideração o cenário latino-americano, palco de importantes transformações políticas.

Está aí a olhos vistos a vigência de uma série de governos democráticos, alguns assumidamente revolucionários, anti-imperialistas e socialistas. Mudou totalmente o panorama político no continente e no mundo. Significa que a revolução está batendo à porta- Não, não significa. Mas significa que as condições para lutar, para acumular forças revolucionárias estão melhorando. Estamos atuando num ambiente melhor, num ambiente mais progressista, num ambiente mais propiciador da unidade das forças avançadas.

Portanto, em nossa análise não podemos considerar a ofensiva do imperialismo como o único fator. Os ativistas sociais devem recorrer ao método dialético e perceber as potencialidades revolucionárias que estão despertando, porque, percebendo a incidência dessas novas forças, compreendendo essas potencialidades, poderemos dar passos na luta pela paz, por uma nova ordem mundial e pela conquista de um mundo melhor, de justiça e progresso social. Nesse sentido, é auspicioso que em nosso país atue uma entidade com o perfil social, político, ético e ideológico do Cebrapaz, uma entidade, plural, aberta com firmes posições de princípios anti-imperialistas, hoje à frente do Conselho Mundial da Paz.

Penso que a concepção que nos norteia é o anti-imperialismo e a convicção de que o imperialismo não é invencível, será derrotado pela luta dos povos.

José Reinaldo Carvalho é jornalista e escritor, especialista em Política e Relações Internacionais, editor do Portal Vermelho e diretor do Cebrapaz.

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