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Internacional

Edição 113 > Esperança e preconceito na América Latina

Esperança e preconceito na América Latina

Edvaldo Magalhães
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A eleição de Ollanta Humala para a presidência do Peru é uma contribuição extraordinária do povo peruano aos avanços à esquerda que arejam a América Latina, quebrando tabus, crendices e medos.

Como primeiro efeito da eleição do candidato de esquerda Ollanta Humala para a presidência do Peru, a Bolsa de Valores de Lima fechou em queda com 12,51, o maior tombo já registrado pelo seu pregão. Foi necessário o presidente destacar um de seus assessores mais próximos para conter a sangria. Ele foi duro na fala: "Não vamos desapropriar os cachorros e as galinhas de ninguém".

A indignação da assessoria de Humala é justificável, pois a previsibilidade desse -efeito de merca- do- não se sustenta em teses econômicas, em algo como uma reação natural à expectativa de mudança de governo. A reação da Bolsa foi mais uma manifestação do preconceito político que se repete contra a eleição de líderes de esquerda na América do Sul, tendência crescente nos últimos anos.

Na contramão da história, alguns setores teimam em questionar o resultado de eleições democráticas - que trai o mesmo preconceito que um dia tentou atemorizar o povo brasileiro -, inventando que a eleição de Lula à presidência do Brasil provocaria uma fantasiosa fuga em massa de empresários e empresas do país.

Havendo tantas considerações positivas a fazer sobre a eleição de Humala, pode soar mesquinho olhar nessa direção. Mas é preciso atentar para esse preconceito e esse tipo de reação especulativa às vi- tórias da esquerda, no melhor momento democrático já vivido na América do Sul.

Pode parecer exagerado lembrar que a China comunista é hoje a principal responsável pelo equilíbrio da economia de mercado no mundo. Isso acontece pelo fato de - pondo os pés na realidade do nosso tempo - os chineses terem vencido a fome, promovi- do a inclusão social a milhões e estarem consolidando um país rico para uma nação socialista. Isso é superar preconceitos. De certa forma, também ajuda a entender o risco que a democracia corre na América Latina se desconhecemos o perigo por trás do combate sistemático e preconceituoso que se faz aos governos populares de Brasil, Uruguai, Bolívia, e agora Peru.

Apesar da crise financeira mundial, que ainda não sarou, tentam atribuir as conquistas brasileiras com os governos Lula e Dilma aos bons cenários externos. Tentam esconder a identidade socialista do governo uruguaio, embora o presidente José Mujica seja uma das maiores referências da esquerda no continente. Evitam lembrar os dez anos de governo do Partido Socialista no Chile, com os presidentes Ricardo Lago e Michele Bachelet resgatando a força empreendedora do país. Chega a ser cruel a caricatura a que estão resumindo o governo de Evo Morales, desconsiderando séculos de opressão e empobrecimento do povo da Bolívia. E Humala, saído das urnas, não tardará a ser pintado como um militar de patente inferior limitado por ideias nacionalistas. Tudo isso é preconceito. Ou conceitos que formam o preconceito político contra a democratização política e econômica que o avanço da esquerda representa hoje para a América do Sul.

A lição imediata é que o tempo de resistência e solidariedade entre os povos latino-americanos não pode se perder numa lembrança romântica. Se os tempos mudaram, se o mundo se dividiu em merca- dos concorrentes, se a competição tornou-se a orientação das políticas nacionais, tudo isso cobra mais amizade, solidariedade e cooperação entre os povos da América Latina.

Fragilidade da democracia sul-americana

A eleição no Peru é especialmente didática quanto à fragilidade da democracia sul-americana. In- suspeito, Mário Vargas Llosa sustentou que a vitória de Ollanta Humala -salvou o país de uma ditadura que, amparada por uma maioria nas urnas, isentaria o regime de Alberto Fujimori e Vladimiro Montesinos (1990-2000) dos crimes de roubos praticados-. Assusta o risco que o Nobel de Literatura aponta ter tocado seu país: -pela mais pacífica e civilizada das formas - um processo eleitoral - o fascismo teria res- suscitado no Peru-.

Vargas Llosa não é socialista. Apoiou Humala por questões morais e assustou-se com os meros 3% de votos que impediram a filha do ex-ditador Alberto Fujimori tornar-se dignitária de um salvo-conduto popular para o crime e a corrupção. Ele também identificou uma maioria não corrompida nas camadas mais pobres da população e declara: -se o governo de Humala compreender isso e atuar coerentemente teremos, finalmente, como em Chile, Uruguai, e Brasil, uma esquerda autenticamente democrática e liberal-.

As declarações Vargas Llosa demonstram superação, se não de preconceitos, pelo menos de diferenças políticas internas, e levam a pensar sobre o papel do Brasil em relação aos países-irmãos da América Lati- na, sobretudo os mais pobres. E entre os mais pobres, os fronteiriços, portanto, Paraguai, Bolívia e Peru. A verdade é que nos acostumamos com o olhar preconceituoso sobre nossos vizinhos pobres, desprezamos laços de amizade seculares e estamos deixando de ver possibilidades pela ideia simplória de que o Brasil na- da tem a ganhar numa convivência mais efetiva em suas fronteiras a Oeste. Nada mais preconceituoso.

A relação de compra da cota de energia do Paraguai em Itaipu e a querela do fornecimento de gás pela Bolívia são exemplos recentes da manipulação do discurso nacionalista para intentar contra as relações entre governos populares que buscam uma integração justa e respeitosa na fronteira andina. Chega-se ao absurdo de desconhecer o potencial da economia peruana, que na última década cresceu a taxas chinesas, entre 7% e 8% ao ano, embora um terço de sua população ainda viva na pobreza extrema e 70% dos trabalhadores tenham empregos precários. O analfabetismo, a desnutrição infantil, o tráfico de drogas e mesmo a corrupção, são desafios imensos para país e para seu novo presidente. Mas não foram e não são ainda esses mesmos os nossos desafios aqui no Brasil-

O preconceito político nos cerca por todos os lados. Ele precisa ser superado pela sociedade brasileira, permitindo determinação para o Brasil intensificar a integração da América Latina. E deve ser combatido como o mais cruel dos recursos para exploração dos povos e das riquezas do continente sul-americano, ainda hoje humilhado numa condição de Terceiro Mundo. Por este aspecto, a eleição de Ollanta Humala é uma contribuição extraordinária do povo peruano aos avanços à esquerda que arejam a América Latina, quebrando tabus, crendices e medos. E há de revelar um líder empenhado pela nossa integração.

Edvaldo Magalhães é secretário de Desenvolvimento do estado do Acre, membro do Comitê Central do PCdoB, ex-deputado estadual e ex-presidente da Assembleia Legislativa do Acre.

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