História
Edição 112 > Partido Comunista do Brasil, 89 anos a serviço da democracia, dos trabalhadores e do Socialismo!
Partido Comunista do Brasil, 89 anos a serviço da democracia, dos trabalhadores e do Socialismo!
Comemorou-se - neste mês de março de 2011- o aniversário de 89 anos do mais antigo partido polÃtico em funcionamento contÃnuo no paÃs: o Partido Comunista do Brasil. Que, ao mesmo tempo, se apresenta como o mais jovem, pela composição social de suas fileiras e pelas ideias que defende. Na oportunidade, a direção partidária comunista desencadeou os preparativos para a comemoração, com data redonda, dos 90 anos de trajetória polÃtica do Partido. O presidente do PCdoB, Renato Rabelo, analisou em um ato realizado na Câmara dos Deputados, em BrasÃlia, a situação atual da legenda

Neste ano de 2011- em que saudamos os 89 anos de luta do PCdoB - atuamos sob as condições da terceira vitória das forças democráticas, progressistas, populares e de esquerda em nosso país. Esta vitória consagra um feito histórico: a primeira mulher eleita para a presidência da República, Dilma Rousseff. Trata-se da continuidade possível da construção de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento, voltado para a consolidação da soberania nacional, para a erradicação da miséria, para a ampliação da democracia e dos direitos dos trabalhadores.
Acrescento que este fato ocorre num contexto de um mundo marcado por grandes conflitos. Um mun- do perigoso, no qual o imperialismo estadunidense está à frente de novas intervenções armadas e onde despontam novos focos de guerra.
Na verdade, o governo Dilma encontra-se diante de uma situação mundial que encerra grande instabilidade, indicando uma transição gradativa no sistema de poder mundial, marcada por profundos desequilíbrios macroeconômicos decorrentes do desdobramento da crise sistêmica econômica e financeira internacional. Nessa situação em evolução, o Brasil depende mais - no plano externo - do crescimento das economias das nações em vias de desenvolvimento, sendo estas as economias mais dinâmicas atualmente. A China já ocupa a primeira posição de parceiro comercial com o Brasil e hoje dependemos mais do avanço do comércio Sul-Sul e do Mercosul. Ela é hoje a segunda maior potência no cenário mundial. Nestas condições, visando ao desenvolvimento nacional, o novo governo terá que focar seus interesses no aprofundamento das relações geopolíticas Sul-Sul e no crescimento comercial entre os países menos afetados pela crise. No plano político internacional, é preciso analisar e tirar conclusões sobre as revoltas populares nos países árabes e sobre a ação intervencionista do imperialismo norte-americano e dos países membros da Otan: agem de uma forma determinada no Egito, Tunísia, Arábia Saudita, e de maneira diferente na Líbia e Síria. Nos países onde existe uma classe dominante sob seu controle, os EUA manobram com os novos dirigentes para manter os acordos anteriores. Onde o imperialismo não tem controle e não pode manobrar, então partem para a intervenção direta. Em outros países os EUA e a Otan atuam junto com essas classes dominantes locais para reprimir o povo e a revolta, como é o caso da Arábia Saudita e do Bahrein.
O Brasil, por sua vez, vive condições favoráveis e até inéditas em sua história. Reacende a esperança para alcançar um patamar de um país democrático, soberano, de progresso social e integrado com seus vizinhos do continente. Entretanto - fato que para nós comunistas representa um grande acontecimento no ensejo desta comemoração do octogésimo nono aniversário -, começamos a partir de hoje os preparativos para o evento do nonagésimo aniversário de existência do Partido Comunista do Brasil. Por si só, os 90 anos de vida de um partido comunista no Brasil já carrega um significado profundo na história política brasileira.
É algo incomum. Afinal, nenhum outro partido no país alcançou essa longevidade de forma contínua. Qual seria a razão de tal fenômeno- Para durar este período todo, um partido precisa representar os interesses materiais de determinados grupos sociais, vinculado a um Programa e a uma ideologia. Precisa ter uma base teórica e ideológica definida. O Partido Comunista do Brasil faz parte da corrente fundada por Karl MARX e Friedrich ENGELS. Consideramos que essa é a nossa teoria-guia, assim como seus métodos de análise.
A obra econômica, política, social e filosófica empreendida por Marx teve sua aplicação depois de seu tempo. É atual em nossos dias. Claro, toda a teoria exige desenvolvimento. Neste sentido avaliamos que o leninismo (o pensamento de Vladimir Ilitch Lênin) é o maior desenvolvimento da teoria marxista. Na recente crise econômica e financeira do capitalismo, Marx voltou a ser amplamente lido e estudado. Está entre os autores mais procurados na atualidade. Recentemente esteve no Brasil o professor alemão Rolf Hecker, que trabalha na edição das obras completas de Marx e Engels. Ele pergunta: -Nós já sabemos tudo sobre Marx-- E responde: -Sim e não!- Ou seja, enquanto houver material novo envolvendo esse imenso patrimônio, essa pergunta ficaria em aberto.
A questão é que o marxismo tem de ser aplicado a cada realidade nacional. Deve resultar de uma práxis nacional. É com este esforço que o PCdoB vem construindo seus Programas e definindo seus Princípios. A longevidade do Partido depende igualmente da nossa capacidade de tirar ensinamentos dos erros e revezes. E também da nossa determinação em conhecer a realidade de nossa história e da formação da Nação, das particularidades econômicas e sociais e da alma do povo. Somente assim, o marxismo pode ser -nacional- para alcançarmos um Programa e um projeto de transformação de nosso país em uma grande Nação democrática, moderna e solidária. Temos em nosso Programa um rumo e um caminho. O rumo é o socialismo e o caminho é a luta incessante pela construção de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento, soberano e democrático. É o desafio do momento presente.
O PCdoB não alterou sua identidade comunista e socialista. É um partido de Princípios, voltado para nossos dias e orientado por uma tática flexível. Não é um partido fundamentalista, nem sectário ou extremista. Diante do horizonte dos seus 90 anos tem a convicção de que é preciso resgatar ainda grande parte de sua memória. Um povo - uma classe, um partido - sem memória, sem identidade e sem projeto político, estará sempre fragilizado para a concretização de um grande empreendimento de futuro.
O PCdoB esteve envolvido nas principais lutas e conquistas nacionais e populares no Brasil, sendo por isso mesmo uma das organizações mais perseguidas pelos regimes ditatoriais. Dos 89 anos de existência, o Partido Comunista conheceu 28 anos de legalidade apenas. Muitos dos seus documentos foram destruídos, dispersos e perdidos e de 1980 para cá foram escritas inúmeras monografias e teses sobre a história do Partido, tanto produção acadêmica como militante. Por isso o PCdoB resolveu constituir um Centro de Memória e Documentação (CDM) junto à Fundação Maurício Grabois, encarregado de coletar, preservar, organizar e disponibilizar para o grande público o material partidário e depoimentos de antigos militantes. Porque sem um Partido forte as vitórias são improváveis e os êxitos, efêmeros.
Renato Rabelo é presidente do Partido Comunista do Brasil.